O líder do partido de esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, 40 anos e vencedor das legislativas de domingo, prestou juramento nesta segunda-feira no cargo de primeiro-ministro da Grécia, convertendo-se no mais jovem chefe de governo deste país em 150 anos.
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Tsipras, como é habitual, não usava gravata e quebrou outra tradição ao realizar um juramento civil e não religioso, prometendo "servir sempre aos interesses do povo grego".
Sua posse se tornou possível depois que o partido de esquerda radical fechou uma aliança com o pequeno partido nacionalista Gregos Independentes.
O Syriza, que com 149 assentos de um total de 300 ficou a dois da maioria absoluta, também conta agora com os 13 deputados do Gregos Independentes.
A histórica vitória do Syriza - um partido antiausteridade europeia - nas eleições gregas coloca em xeque a política de duro ajuste e rigor imposta pela União Europeia ao país.
Em seu primeiro discurso após a divulgação dos resultados, Tsipras declarou que a Grécia "deixou para trás a desastrosa austeridade", ao mesmo tempo em que mostrou sua intenção de negociar com os credores do país "uma solução justa, viável, duradoura, que beneficie a todos".
Desde 2010, os credores - UE e Fundo Monetário Internacional - acertaram 240 bilhões de euros em empréstimos ao país em troca da aplicação de drásticos planos de austeridade e cortes sociais. Agora a Grécia, integrante da zona do euro, espera o desbloqueio da última parcela dos empréstimos acordados antes do fim de fevereiro.
UE e Alemanha reagem
Interrogado nesta segunda-feira sobre a chegada ao poder na Grécia de um partido de esquerda radical como o Syriza, o presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, afirmou que "pertencer à zona do euro significa que é preciso respeitar o conjunto dos acordos".
"Sobre esta base estamos prontos para trabalhar com eles", acrescentou em referência ao novo governo que será dirigido por Alexis Tsipras.
Já a chanceler alemã, Angela Merkel, espera que o novo governo grego mantenha os compromissos adquiridos ante os credores internacionais, indicou nesta segunda-feira seu porta-voz.
"Na nossa opinião é importante que o novo governo tome medidas que preservem a recuperação econômica da Grécia", afirmou o porta-voz, Steffen Seibert. "Isso significa que os compromissos adquiridos devem ser respeitados", acrescentou.
O ministro da Economia espanhol afirmou após a vitória do Syriza que não teme que ocorra o mesmo na Espanha, onde o Podemos - identificado com o partido da esquerda radical grega - lidera as pesquisas eleitorais.
"A Grécia não é comparável nem equiparável à Espanha", declarou Luis de Guindos em uma entrevista ao jornal econômico Expansión.
Outras reações à vitória do Syriza não demoraram a chegar. França e Estados Unidos mostraram sua vontade de seguir trabalhando estreitamente com o próximo governo grego, enquanto o primeiro-ministro britânico, David Cameron, alertou para um aumento da incerteza econômica na Europa.
A UE, por sua vez, parece decidida a discutir rapidamente com Tsipras. Os primeiros sinais podem chegar ainda nesta segunda-feira após a reunião dos ministros da Economia da Eurozona (Eurogrupo) sobre o futuro do programa de ajuda financeira da Grécia.
"Não podemos evitar uma renegociação (da dívida), a questão será o que abordará: prazos, montantes, ambos", declarou no domingo à AFP uma fonte europeia em Bruxelas.
Alexis Tsipras, que prometeu medidas imediatas, como o aumento do salário mínimo de 580 para 751 euros, advertiu que não se conformará com uma simples reestruturação da dívida (mais de 300 bilhões de euros e 175% do PIB), mas que quer uma clara redução.
Euforia das esquerdas
O êxito eleitoral do Syriza foi recebido com esperança pelas esquerdas de outros países. "Os gregos vão ter um presidente grego de verdade, não um delegado de Angela Merkel", declarou o espanhol Pablo Iglesias, líder do Podemos.
E, inclusive, o partido francês de extrema-direita Frente Nacional comemorou nesta segunda-feira "abertura de um processo contra a euro-austeridade" com a vitória do Syriza e reiterou seu desejo da saída da França da UE.
No primeiro dia após as eleições gregas, as principais bolsas europeias abriram em leve queda.
Já a bolsa grega caiu inicialmente 5,5% na manhã desta segunda-feira, mas depois reduzia sua queda (-3,2%) por volta das 12h00 GMT (10h00 de Brasília).
Durante as negociações na Ásia, o euro havia caído a seu nível mais baixo em 11 anos, abaixo de 1,11 dólar. Nesta segunda-feira às 11h15 GMT (09h15 de Brasília) se recuperou um pouco e valia 1,1245 dólar.