O promotor argentino Alberto Nisman foi "assassinado", declarou nesta quinta-feira sua ex-esposa, uma juíza que representa na justiça como demandante a mãe e as filhas do promotor, e que denunciou em janeiro a presidente Cristina Kirchner, ao revelar o resultado de uma investigação paralela.
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"Nisman não sofreu um acidente, não se suicidou, foi morto. Sua morte é um magnicídio [assassinato de pessoa importante] de proporções desconhecidas", disse a juíza federal Sandra Arroyo Salgado, mãe das duas filhas - de 8 e 15 anos - do promotor encontrado morto com um tiro na cabeça em seu apartamento em 18 de janeiro, poucos dias após denunciar Kirchner por suposto acobertamento de ex-dirigentes iranianos suspeitos da autoria de um atentado antissemita em 1994, em Buenos Aires.
A juíza leu as conclusões de um relatório de quase 100 páginas, elaborado pela equipe de peritos legistas a pedido da família. A investigação foi entregue à promotoria, que investiga este caso como "morte duvidosa".
"Só podemos concluir que Nisman foi vítima de um homicídio, sem sombra de dúvida", declarou a juíza em uma coletiva de imprensa 46 dias depois da morte do ex-marido, que ainda causa comoção na Argentina.
O relatório também indicou que "o corpo foi mexido", um dado que contradiz a versão da promotora que investiga a morte, Vivian Fein, segundo a qual o corpo de Nisman jazia no chão do banheiro do apartamento, obstruindo a porta, e que nenhuma pessoa entrou até a chegada de um juiz e de peritos na noite de sua morte.
Para Arroyo Salgado, "infeliz e irremediavelmente, a autópsia (oficial) levou a conclusões parciais, precipitadas e equivocadas, funcionais para o ou os homicidas, contribuindo com sua impunidade ou retardando-a na melhor das hipóteses".
"No existiu espasmo cadavérico, porque houve agonia", assinala outra conclusão que questiona as perícias oficiais de que a mão direita de Nisman estava rígida com o dedo em posição de gatilho na arma Bersa calibre 22 que o matou.
Viviana Fein disse que analisará o relatório para confrontá-lo com as perícias oficiais e não descartou convocar uma junta médica, durante entrevista coletiva na promotoria.
"Ela, a doutora Arroyo Salgado, está descartando mas eu não descarto qualquer" hipótese, disse Fein ao se referir ao suicídio, suicídio induzido ou homicídio, as três possibilidades analisadas na investigação oficial desde o início do caso, rotulado como "morte duvidosa".
"Este é um tema de dissidência técnica de peritos. Meu cargo é de promotora".
Quatro dias antes de morrer, Nisman acusou Kirchner, seu chanceler, Héctor Timerman, e assessores do governo de ter acobertado os iranianos acusados do atentado contra a associação Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA).
O ex-presidente iraniano Ali Rafsanjani é um dos suspeitos do ataque, que deixou 85 mortos e 300 feridos.