A Justiça argentina vai convocar uma junta médica para esclarecer novas dúvidas que surgiram sobre a morte do promotor Alberto Nisman, há quase dois meses. Ele foi encontrado no banheiro de sua casa, com um tiro na cabeça, quatro dias depois de acusar a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, de acobertar os responsáveis pelo pior atentado na história do país.
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A decisão foi tomada pela promotora responsável pelo caso, Viviana Fein, que reconheceu divergências entre o laudo oficial, que diz que Nisman se suicidou, e uma investigação paralela feita a pedido da família do promotor.
De acordo com a investigação não oficial, Nisman foi obrigado a se ajoelhar de frente para a banheira e recebeu um tiro por trás, de um revólver calibre 22, encontrado ao lado do corpo. Essa descrição detalhada está no relatório de 93 páginas, feito pelos peritos contratados pela ex-mulher com base nos dados fornecidos pelos responsáveis da investigação oficial.
Apesar dos dados serem os mesmos – fotografias do corpo na posição em que foi encontrado, manchas de sangue, resultados da autópsia – as conclusões das duas equipes de peritos são muito diferentes. Segundo os especialistas da Suprema Corte, Nisman morreu na tarde do dia 18 de janeiro e não há provas suficientes para determinar se foi suicídio ou homicídio. Já os peritos contratados pela família dizem que ele foi assassinado um dia antes, que agonizou e que teve o corpo movido.
A polêmica sobre o caso aumentou hoje (12) quando a promotora Viviana Fein disse desconhecer um dos trechos do relatório, o item 12, que descreve a forma como Nisman teria sido morto: “No momento de receber o disparo a vítima deve ter estado com um joelho no chão”, diz o trecho. Os peritos explicam que chegaram a esta conclusão pelas manchas de sangue encontradas na cena e porque, se Nisman estivesse de pé, teria sofrido lesões nas costas e na cabeça, na hora de cair – o que não aconteceu.
“Não há nenhum item 12. Não sei do que se trata”, disse a promotora. “Não falamos sobre a mecânica da morte.” A juíza Sandra Arroyo Salgado, ex-mulher do promotor, reagiu às declarações. “Ela está faltando com a verdade”, disse, ao garantir que o trecho está no relatório entregue à Viviana.
Em seguida, a promotora reconheceu que sabia da existência do item 12, mas disse que não comentou o conteúdo porque Sandra lhe pediu sigilo sobre o documento da investigação paga pela família.
Feim informou que o relatório foi aceito como parte da investigação e que vai investigar “as dissidências, que praticamente são totais, em relação a autópsia” com a convocação da junta médica.
Nisman era o promotor responsável pelas investigações do atentado de 1994 contra o centro comunitário judaico Amia, que matou 85 pessoas e feriu mais de 300 em Buenos Aires. Ele acusou o Irã de ter planejado o ataque.
Em janeiro deste ano, o promotor acusou Cristina Kirchner de conspirar com Irã para acobertar os supostos terroristas. O motivo, segundo Nisman, seria um acordo econômico entre os dois países em que a Argentina compraria petróleo iraniano e venderia trigo e armas. Nisman seria ouvido no Congresso argentino no dia 19 de janeiro, mas foi encontrado morto na véspera.