Após o principal investigador apontar que o copiloto do Airbus A320 da Germanwing que caiu na última terça-feira (24) ter propositadamente iniciado a descida e recusado-se a abrir a porta da cabine ao piloto, a discussão voltou-se para até que ponto as medidas de segurança são eficazes quando o perigo se encontra dentro da cabine de comando. Fora isso, a falta de uma lei que diminua a extensiva carga de trabalho dos pilotos no Brasil acende a luz de alerta no País. Em entrevista ao JC, o comandante e diretor da Secretaria de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Mateus Ghisleni, afirmou que as empresas aéreas brasileiras não têm o costume de realizar exames psicológicos em pilotos. A carga de trabalho deles pode passar das 11 horas diárias.
Um conceito desenvolvido após os ataques terroristas em 11 de Setembro de 2011 torna a cabine de comando impossível de abrir sem a permissão de quem estiver dentro. O excesso de proteção ao comandante acabou gerando uma falha quando o perigo se encontra no comando do avião?
Não acredito nisso. A possibilidade de um ataque terrorista derrubar um avião é muito maior do que a de um piloto suicida derrubar a aeronave. O que tem de ser revisto é o acompanhamento psicológico. Se você tornar possível a abertura por fora isso certamente será usado para ataques terroristas.
Esse acompanhamento psicológico não é feito?
Não tenho informação precisa de como é em outros países, mas no Brasil ele não ocorre de forma satisfatória. Cada empresa segue uma norma própria e só fazem esse acompanhamento na admissão do piloto, no caso de o piloto ter passado por algum acidente ou quando o profissional solicita. Essa questão se agrava quando percebemos que temos no Brasil uma carga de trabalho muito extenuante.
Por que as empresas não investem nesse acompanhamento?
Não é viável economicamente. Se um piloto for diagnosticado com algum distúrbio, e são muitos hoje obrigados a voar sem condições no país, a empresa terá de afastá-lo. Isso representa custos.
Qual é a condição de trabalho de um piloto hoje no País?
Um profissional que tem a responsabilidade de transportar centenas de vidas não pode trabalhar por 11 horas seguidas. É desumano, nenhuma outra categoria convive com tamanha tensão. Uma lei que visa regulamentar isso tramita no Congresso, mas com as investigações da Operação Lava Jato a discussão ficou paralisada. É urgente que se volte ao tema.