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Brasileiro está entre os alistados pelo Estado Islâmico

Kaike Guimarães foi preso na fronteira entre a Bulgária e a Turquia, em 15 de dezembro passado, junto com dois marroquinos

Taíza Brito
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Taíza Brito
Publicado em 30/05/2015 às 18:00
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Kaike Guimarães foi preso na fronteira entre a Bulgária e a Turquia, em 15 de dezembro passado, junto com dois marroquinos - FOTO: Foto: AFP
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Kaike Guimarães foi preso na fronteira entre a Bulgária e a Turquia, em 15 de dezembro passado, junto com dois marroquinos. Os três são acusados de planejar se incorporar aos exércitos do Estado Islâmico na Síria, o que foi negado pelo brasileiro. A ordem de prisão foi expedida pelos Mossos d’Esquadra e executada pela polícia búlgara em função do “delito de pertencer a una organização terrorista”, segundo informe da polícia catalã.

Extraditado para a Espanha um mês depois, ele está no Centro Penitenciário Madrid 5, onde espera julgamento, em prisão preventiva e sem direito à fiança. Goiano nascido da cidade de Formosa, a 75 km de Brasília, ele vivia há cerca de dez anos em Terrassa.

Segundo os Mossos d’Esquadra, ele vinha sendo investigado desde junho de 2014 por frequentar reuniões do grupo que se denominava Fraternidade Islâmica para Predicação da Jihad e demonstrar vontade de unir-se à organização terrorista.

Entrevistada à época da prisão, a família o descreveu como um jovem tranquilo, estudioso, sem histórico de violência e que iria à mesquita apenas para rezar. Agora está listado entre os prisioneiros na Espanha acusados de participar do grupo radical mais violento da atualidade. Se condenado, poderá pegar até 12 anos de prisão.

COLABORAÇÃO

Para o diretor geral dos Mossos d’Esquadra, Albert Batlle, o trabalho dos serviços de informação é a chave para se prevenir de ataques terroristas. Ele se coloca à disposição do governo brasileiro para qualquer troca de informação. “Acredito que a polícia do Brasil deve ter ajustado seus protocolos para este tipo de ameaça (jihadista). Mas se pudermos colaborar de alguma maneira, estaremos encantados em ajudar”, diz. Ele lembra que no momento que o país apresentou a candidatura do Rio de Janeiro aos jogos olímpicos o fenômeno jihadista não tinha o poder de atuação visto agora.


Para o professor Joan Antón Mellón, cientista político da Universidade de Barcelona, o Estado Islâmico prega uma ideologia totalitária da violência e não uma religião. “Age de maneira semelhante aos fascistas, demonizando os contrários e planejando destruí-los, dentro de uma proposta absolutamente doutrinária. O que os torna muito mais violentos”, explica. 

Essa ideologia tem sido propagada exaustivamente pelos jihadistas em suas peças de divulgação. São vídeos que chamam a atenção pelos textos "convincentes" e a qualidade da produção cenográfica. Com movimentos de câmera sempre bem estudados, dando sinal que há uma equipe especializada em marketing e comunicação por trás de tudo.

A propaganda, produzida em vários idiomas, coloca os soldados jihadistas como super-heróis que lutam contra os males do ocidente. Desta forma, atraem cada vez mais jovens imigrantes, inclusive mulheres, muitos cooptados através das redes sociais. "A dificuldade de inclusão destas pessoas, que parecem não pertencer nem ao mundo de onde vieram e nem ao local onde estão, as torna mais receptivas às mensagens. Esse tipo de propaganda se assemelha à nazista, com a diferença de ter um toque de modernidade por ser produzida com maiores recursos tecnológicos", enfatiza.

O catedrático acha que as polícias europeias vêm realizando bem o trabalho de prevenção, mas falta que os governos aprimorem as ações do ponto de vista político. "Deixar de agir de forma reativa e passar a atuar proativamente", enfatiza, ao acrescentar que é necessário um olhar mais aprofundado ao coletivo dos imigrantes. 

Joan Anton acredita que deveria haver maior investimento nos programas de integração. "Essas pessoas não vislumbram nenhum presente positivo, muito menos um futuro digno, além de padecerem de vários problemas identitários por serem originários de culturas diferentes. É preciso desviá-los da rota de influência dos terroristas".

Informações divulgadas esta semana pela Audiência Nacional da Espanha dão conta de que o problema vem tomando maior dimensão. O EI estaria agora oferecendo salário a famílias inteiras que aceitam engrossar suas fileiras. Atraindo assim também mulheres e crianças. A ideia é estabelecer seus domínios e povoar os territórios conquistados em nome do califado comandado por Abu Bakr al-Bahgdadi, líder do EI.

Um dos casos que ilustra este tipo de cooptação e chamou a atenção na Espanha foi o da marroquina Samira Yerou, presa em março, no aeroporto de Barcelona, quando tentava embarcar para a Síria com o filho de 3 anos. Numa das conversas com o terrorista com quem acertou a viagem, gravada através de escuta telefônica, ela falava referindo-se à criança: "Ele só quer uma faca e degolar. Isso é o que quer o meu filho". Depois se ouvia a voz do menino: "Vou degolar um policial".

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