Artilharia pesada contra a esquerda que "trai" a República e "despreza a herança" da Nação: o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy disparou toda a sua munição contra o governo durante o lançamento, neste sábado (30), de uma versão renovada de seu partido, rebatizado de Os Republicanos.
Novo nome, novos estatutos e nova equipe: o encontro quer marcar o renascimento da direita, três anos depois da derrota de Nicolas Sarkozy para o socialista François Hollande, que o substituiu à frente do Estado.
O objetivo do partido é passar a imagem de uma família unida após as batalhas internas e as disputas judiciais que mancharam a imagem da União por um Movimento Popular (UMP) desde que Sarkozy foi derrotado nas eleições de 2012.
Após uma semi-retirada da política, o ex-presidente voltou a tomar as rédeas do partido e iniciou um trabalho de renovação com a ideia de reconquistar o poder nas eleições de 2017.
Nesta linha, neste sábado Sarkozy se situou na perspectiva de uma revanche diante do presidente socialista, acusando-o de mostrar uma "mediocridade chocante".
Diante de um público fiel, Sarkozy lançou um ataque contra a esquerda "conservadora (...) e completamente superada pela vida". Acusou os socialistas de serem complacentes com as reivindicações das comunidades minoritárias, de "debilidade na defesa do laicismo" e de "querer destruir a escola".
"Estas palavras (só) buscam prejudicar", reagiu o primeiro-ministro socialista, Manuel Valls, considerando que "não fazem o debate avançar".
Por outro lado, Sarkozy não fez nenhuma referência à extrema direita, embora ela tenha sido a força mais votada nas eleições europeias de 2014 graças ao crescente desapego dos franceses com os dois grandes partidos de governo.
"Necessidade de sossego"
O ex-presidente se deteve nos valores conservadores. Evocando seu dever "em relação a uma certa concepção da civilização", diante da "barbárie", exaltou os valores de mérito, a família e a honra, assim como a boa educação.
Sem mencionar diretamente o Islã, considerou que as religiões "devem se adaptar à República", e não o contrário. Quanto aos estrangeiros, "não conseguimos integrá-los", considerou.
Desde que voltou a liderar o UMP, em novembro de 2014, Sarkozy tenta apagar sua imagem agressiva para se apresentar como um homem de consenso.
No entanto, internamente a harmonia que o grupo tenta demonstrar pode não passar de uma fachada, diante das divergências existentes entre Sarkozy e os outros destaques do partido.
Leia Também
A situação não parece fácil para Sarkozy: quase três quartos dos franceses não desejam que o líder do partido Os Republicanos se apresente nas próximas eleições presidenciais, segundo uma pesquisa publicada neste sábado.
O novo nome dado ao antigo UMP, proposto por Sarkozy e ratificado pelos militantes através de uma votação eletrônica, despertou receios entre a esquerda.
Preocupados ao ver que a direita poderia reivindicar um valor comum, partidos e associações de esquerda apresentaram uma demanda para bloquear a mudança de nome, mas os juízes não abriram nenhum processo.
Estava previsto para este sábado o anúncio da cúpula de liderança do partido, que deve incluir os ex-primeiros-ministros Alain Juppé e François Fillon, rivais de Sarkozy e que provavelmente participarão das primárias em 2016 das quais sairá o candidato para as presidenciais.
Segundo uma recente pesquisa de opinião, Alain Juppé venceria as primárias à frente do ex-chefe de Estado.