Os conflitos e a violência fizeram com que o número de pessoas forçadas a fugir das suas casas subisse para um recorde de 60 milhões no ano passado, divulgou hoje (18) o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
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Este total representa aumento de 8,3 milhões de refugiados e pessoas deslocadas internamente em relação a 2013, o maior aumento em apenas um ano, indica a Acnur, no relatório de tendências globais intitulado Mundo em Guerra.
“Estamos observando uma mudança de paradigma, um resvalo para uma era em que a escala de deslocamentos forçados, bem como as respostas necessárias, está claramente superando tudo o que vimos antes”, disse António Guterres, alto comissário para os Refugiados da ONU, antes do lançamento do relatório anual.
O número de pessoas que tiveram de sair das suas casas atingiu os 59,5 milhões no final de 2014, “como consequência de perseguição, conflito, violência generalizada, ou violações de direitos humanos”, indica o relatório.
Este valor é mais elevado do que os 51,2 milhões de 2013 e do que os 37,5 milhões de há uma década.
Do total, 19,5 milhões eram refugiados, 1,8 milhão buscavam asilo e 38,2 milhões fugiram das suas casas mas ficaram no seu país. Mais de metade dos refugiados do mundo são crianças, percentual acima dos 41% registrados em 2009.
No final de 2014, os países que mais acolhiam refugiados eram a Turquia (1,59 milhão), seguida do Paquistão (1,51 milhão) e Líbano (1,15 milhão).
“As coisas estão fora de controle simplesmente porque o mundo parece estar em guerra”, disse Guterres, ressaltando que só os conflitos na Síria e no Iraque forçaram 15 milhões de pessoas a fugir.
Nos últimos cinco anos, pelo menos 14 conflitos eclodiram ou recomeçaram pelo mundo – mais da metade na África.
“Não temos capacidade nem recursos para [assistir] todas as vítimas do conflito. Já não somos capazes de dar conta do recado”, afirmou Guterres, apelando aos países europeus que “mantenham as fronteiras abertas”.
“Na Europa, mais de 219 mil refugiados e migrantes atravessaram o Mar Mediterrâneo durante 2014. Isso é quase três vezes mais que o pico anterior, de 70 mil, que se verificou em 2011”, diz o relatório.
Apesar dos receios manifestados pelos países europeus e outras nações desenvolvidas em relação ao crescimento de refugiados, o relatório revela que são as nações em desenvolvimento que acolhem 86% dos que fogem da guerra ou perseguição nos seus países.
No final do ano passado, Portugal acolhia 699 refugiados ou pessoas em situação semelhante, um número reduzido quando comparado com outras nações de língua portuguesa, como Angola (15.474), Guiné-Bissau (8.684), Brasil (7.490) e Moçambique (4.536).
Apesar desta tendência de aumento, o relatório da ONU indica que 37 países registraram o retorno de refugiados em 2014, entre eles Angola, para onde voltaram 14,3 mil pessoas.