De um lado o Brasil, registrando queda no Produto Interno Bruto (PIB), uma inflação que deve fechar 2015 acima do teto da meta, que é 6,5%, paralisado economicamente e politicamente por denúncias de corrupção envolvendo as maiores construtoras nacionais e quadros do governo. Do outro a China, com as maiores reservas internacionais do mundo, de US$ 3,89 trilhão, e o afã de continuar sendo o maior parceiro comercial brasileiro, posto ocupado desde 2012. Posições antagônicas que, segundo estudiosos, deixam o nosso país fragilizado diante das investidas de Pequim. Mas, após a assinatura de uma série de acordos no mês passado, especialistas acreditam que é preciso ter cautela na hora de analisar os próximos passos do “dragão asiático”.
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De 2004 a 2014, a corrente de comércio entre Brasil e China cresceu 10 vezes, atingindo US$ 83 bilhões. Em menos de um ano, o país recebeu a visita do presidente chinês, Xi Jinping, e, em maio de 2015, do primeiro-ministro Li Keqiang. Este último assinou 35 acordos, no valor total de US$ 53 bilhões. O cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael destaca que isso mostra a forma como os chineses enxergam o Brasil, como “uma liderança, influente, principalmente, entre os seus parceiros da América Latina”.
Mas como esses acordos vão sair do campo das ideias para a execução é a preocupação da economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Lia Valls. “De concreto, os empréstimos para a Petrobras, Vale, liberação da carne de oito frigoríficos e compra de 22 aeronaves da Embraer” é o que devemos aguardar, pontua Lia. Para ela, os demais tratados, se saírem, só vão ser executados após passar por todo trâmite burocrático brasileiro.
Assim como na época da colonização portuguesa, quando vendíamos matéria-prima e comprávamos produtos manufaturados, a indústria brasileira precisa ser incentivada para que o mesmo não ocorra nessa relação com os chineses. Atesta o coordenador do Instituto de Estudos da Ásia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Costa. Pós-doutor em Economia Política, o especialista elenca ainda que “precisamos observar como serão feitas as obras. Na África, quando querem construir uma ferrovia, por exemplo, os chineses já levam ela pronta, inclusive a mão de obra”. Isso não geraria, durante a construção, renda representativa na localidade.
Saindo deste campo macro e de tratados internacionais, a população chinesa também tem descoberto os atrativos brasileiros. Em 2010, 37,8 mil chineses visitaram nosso País. No ano seguinte, esse número saltou para 55,9 mil e chegou a 65,9 mil em 2013. Número que cresce, principalmente por causa dos que buscam fechar negócios no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Turismo. Cada vez mais, em diversas áreas, os dois países estão se aproximando.
NEGÓCIOS COM PERNAMBUCO
O caminho para que a China se transforme na maior potência mundial passa por Pernambuco. A sinalização é dos próprios chineses. No começo de junho, na inauguração da nova sala do Instituto Confúcio, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), a cônsul-geral da China no Recife, Li Feiyue, destacou a força do Estado e “o desejo de aproximação entre os povos”. Fora isso, a capital pernambucana foi escolhida para sediar o primeiro Consulado Geral chinês no Nordeste, que segue os preparativos finais para funcionar plenamente.
“Recife é a capital com a maior rede consular do norte-nordeste. Os EUA, por exemplo, só possuem consulados gerais em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife”, afirma o cientista político e assessor internacional da Unicap, Thales Castro. Autor do livro Teorias das Relações Internacionais, ele frisa que os investimentos da China no Brasil certamente passarão por Pernambuco, dentre outros pontos, por sua posição geográfica estratégica em relação ao continente africano e ao europeu.
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