O presidente Barack Obama e a presidente Dilma Rousseff comemoraram nesta terça-feira (30) que sua relação bilateral esteja agora em "um bom nível", depois das tensões dos últimos anos após o escândalo de espionagem.
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"Dilma, quero agradecer por ter levado a aliança entre nossos países a um novo nível", afirmou Obama durante coletiva conjunta na Casa Branca, após uma reunião de duas horas no Salão Oval.
Obama elogiou o Brasil não apenas como um ator regional, mas como uma "potência global", além de apontar Dilma como uma "parceira confiável".
A reunião e o tom das declarações marcaram o fim das tensões entre Washington e Brasília e lançaram uma nova etapa entre os dois países, concentrada na cooperação e no esforço para multiplicar o intercâmbio comercial.
Os vínculos entre Brasília e Washington sofreram um verdadeiro abalo em 2013, após as revelações de que a Inteligência americana havia interceptado telefones pessoais de Rousseff. O escândalo motivou o adiamento de uma visita de Dilma aos Estados Unidos programada para outubro daquele mesmo ano.
Nesta terça, a presidente deixou claro que seu governo considera o caso uma página virada. Nesse sentido, Dilma disse acreditar nas garantias dadas por Obama sobre as mudanças em sua política de segurança.
"Algumas coisas mudaram. Eu acredito no presidente Obama", afirmou.
"Ele me disse que, quando precisar de alguma informação confidencial sobre o Brasil, vai telefonar para mim", concluiu Dilma.
Duplicar o comércio
Um comunicado conjunto de sete páginas marcou a mudança de tom nas relações entre os dois gigantes e destacou as quatro instâncias escolhidas para incrementar o diálogo nas áreas de aliança global, economia e finanças, estratégia energética e cooperação em Defesa.
O documento não menciona metas específicas, mas fontes das duas delegações anteciparam que a intenção é concentrar esforços para duplicar o comércio nos próximos dez anos, uma tarefa que demandará negociações, por exemplo, sobre barreiras ao comércio nos dois países.
O Departamento americano de Agricultura modificou suas normas para permitir a importação de carne bovina "in natura" de várias regiões do Brasil, suspendendo restrições que eram alvo de negociação há 15 anos.
Fontes oficiais brasileiras consideram que essa flexibilização nas normas americanas permitirá a venda de até 100.000 toneladas de carne brasileira nos próximos cinco anos.
"Nosso comércio bilateral é muito expressivo e baseado em produtos de maior valor agregado. Nós queremos ampliar e diversificar nossas trocas, e nosso desafio é dobrar a corrente de comércio em uma década. O objetivo é construir as condições para um relacionamento comercial ambicioso entre o Brasil e os Estados Unidos", disse a presidente Dilma.
Obama e Dilma também concordaram em seu compromisso com o sistema multilateral de comércio: "É hora de os membros da Organização Mundial de Comércio (OMC) encontrarem um caminho para finalizar a Agenda de Desenvolvimento de Doha".
Metas ambiciosas sobre clima
Brasil e EUA também enfatizaram a cooperação na área ambiental, em particular em ações de combate ao aquecimento global, e emitiram um documento, no qual pediram um acordo mundial "ambicioso" durante a conferência COP 21 sobre o clima em dezembro próximo em Paris.
Os dois governos se propõem a "trabalhar conjuntamente e com outros sócios para resolver potenciais obstáculos para um acordo ambicioso e equilibrado em Paris", acrescenta a nota.
No texto, o Brasil se compromete a agir para reduzir o desmatamento ilegal a zero na próxima década.
Ainda segundo o comunicado, o resultado da esperada conferência COP 21 "enviará um forte sinal para a comunidade internacional de que governos, empresas e sociedade civil estão enfrentando com firmeza os desafios da mudança climática".
"Nós queremos chegar, no Brasil, ao desmatamento zero até 2030 - desmatamento ilegal zero até 2030. E também queremos virar a página e passarmos a ter uma política clara de reflorestamento. Isso é importantíssimo para o Brasil", frisou Dilma.
Já Obama disse que os dois países têm "objetivos ambiciosos" no que diz respeito ao aumento do total de energias renováveis - 20% até 2030-, uma meta "que representa triplicar a capacidade dos Estados Unidos e duplicar a do Brasil".