A Europa e os seus líderes esperavam apreensivamente neste domingo os resultados do referendo na Grécia, que poderá ter consequências para o futuro do continente. As manchetes dos jornais davam destaque para este evento que tem concentrado as atenções: "O voto decisivo dos gregos" (Frankfurter Allgemeine Sonnds_matia_palvrZeitung), "A Europa na angústia" (Corriere della Sera), "Grécia decide o futuro do euro e da UE" (El Pais).
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Este voto, que deve apoiar ou sancionar a recusa do governo grego em cumprir as exigências dos credores do país, "vai determinar a trajetória futura da integração europeia", considera Pawel Tokarski, analista da Fundação de Ciência e Política (SWP) de Berlim. O que está em jogo explica a apreensão dos líderes europeus que lideram as discussões com Atenas, principalmente a chanceler alemã Angela Merkel.
Uma saída da Grécia da união monetária iria assinar o fracasso da gestão de crise instilada durante anos pela chanceler alemã. "Ela não gostaria de ser acusada de empurrar a Grécia para fora do euro" e de enfraquecer toda a Europa, diz Julian Rappold, pesquisador do Instituto Alemão para Política Externa (DGAP).
E, embora as consequências econômicas possam ser contornadas, um "Grexit" enviaria um "sinal desastroso" para os parceiros da UE, advertiu neste domingo o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier.
Interpretações divergentes
O líder do governo italiano, Matteo Renzi, previu neste domingo que, qualquer que seja o resultado da votação grega, na segunda-feira "voltaremos a conversar". "A primeira a saber é precisamente Angela Merkel", acrescentou.
"Nós não vamos deixar os gregos", assegurou por sua vez o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz. Mas potenciais futuros debates se anunciam "muito difíceis", já alertou o alemão Wolfgang Schäuble. De qualquer forma, "independentemente do resultado, ele será interpretado de forma diferente pelas forças políticas na Grécia e da zona do euro", adverte Tokarski.
A pergunta que os eleitores gregos devem responder já é alvo de interpretações divergentes. Para o governo de Atenas, trata-se apenas de dizer não às novas medidas de austeridade, rejeitando a última proposta de ajuda europeia. Outros compreendem o referendo como um voto a favor ou contra o euro. "É claro que esta é também uma questão", ressaltou em uma entrevista o presidente do Parlamento Europeu.
E enquanto os gregos se mostravam muito divididos antes da votação, entre os europeus a situação se repete. "Eu realmente espero que os gregos façam um gesto claro em favor da Europa, porque para mim eles são parte integrante da comunidade europeia", confidenciou neste domingo à AFP Gabriela Heinrich, deputada social-democrata do Bundestag alemão.
Mas, em Barcelona, ??Paris, Dublin e Frankfurt, milhares de pessoas protestaram nos últimos dias contra a política europeia atual e em apoio a um Oxi (não) grego.
Sem dinheiro
"Espero que o 'não' vença", diz a portuguesa Isabel Pedro, de 48 anos, funcionário de um call center, enquanto o seu compatriota Nelson da Rocha, de 61 anos, vê no referendo "uma lição de democracia dada pela Grécia para a Europa".
No outro extremo do continente, em Riga, Velta Priede não está disposta a dar mais apoio aos gregos. "Você realmente acha que nós aqui da Letônia temos dinheiro para ficar distribuindo?", ressaltou a aposentada de 64 anos.
Na Espanha, país que também atravessou uma grave crise econômica, os aliados do Syriza veem no referendo uma ocasião "histórica" ??para mudar a Europa, alguns meses antes das eleições do final de ano.
A direita, pelo contrário, teme um contágio da política de esquerda do partido grego no poder. O primeiro-ministro Mariano Rajoy expressou neste domingo sua "esperança" de que a Grécia permaneça na zona do euro. Além disso, alguns já enxergam para além do referendo deste domingo. O referendo é "praticamente irrelevante" aos olhos dos mercados financeiros, comentou Erik Nielsen, economista-chefe do UniCredit Bank.
"Só quando o governo mudar, e quando soubermos como a Europa encarará o prazo de 20 de julho é que saberemos onde a Grécia vai", explicou ele, referindo-se ao pagamento de 3,5 bilhões ao BCE que Atenas tem de realizar nessa data.