O primeiro-ministro islamita-conservador turco, Ahmed Davutoglu, anunciou nesta quinta-feira (13) o fracasso das negociações com a oposição para formar um governo de coalizão e considerou muito provável a realização de eleições antecipadas.
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"Não conseguimos assegurar uma base propícia para a formação de um governo", disse à imprensa em Ancara após uma última reunião com o líder dos sociais democratas no Parlamento, Kemal Kiliçdaroglu.
"A esta altura, eleições antecipadas são a única opção que a Turquia tem", acrescentou o primeiro-ministro, que considerou que a opinião pública turca estava preparada para esta possibilidade.
O país espera a formação de um governo desde as eleições de 7 de junho, nas quais o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) do presidente Recep Tayyip Erdogan, o homem forte da política turca desde 2002, perdeu a maioria absoluta.
O social-democrata Partido Republicano do Povo (CHP), principal movimento opositor, havia sido o único a dar uma resposta positiva ao primeiro-ministro em fim de mandato, e negociava com o AKP desde 13 de julho.
Os curdos do Partido Democrático dos Povos (HDP) e o Partido de Ação Nacionalista (MHP), de extrema-direita, se negaram categoricamente a fazer qualquer aliança com o AKP.
Antes da reunião entre Davutoglu e Kiliçdaroglu, a imprensa local havia indicado que o AKP não descartava convocar novas eleições para novembro, encorajado pelas recentes pesquisas que concedem a ele entre 42% e 43% dos votos, suficiente para formar um governo sozinho.
"Eleições antecipadas beneficiam mais o AKP", opinou nesta quinta-feira o primeiro-ministro
Novas eleições em perspectiva
Erdogan parece partidário de convocar eleições antecipadas com o objetivo de reconquistar a maioria absoluta, uma etapa necessária para alcançar seu velho sonho de transformar o sistema parlamentar turco em uma república presidencialista.
Segundo seus opositores, a campanha militar lançada em julho contra os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e o grupo Estado Islâmico (EI) voltou a mobilizar o eleitorado nacionalista.
"O presidente se opõe a qualquer coalizão, quer que voltem a votar imediatamente (...) Desde o dia seguinte às eleições, só pensa em eleições", comentou Mehmet Yilmaz, editorialista do jornal Hürriyet.
Erdogan mal havia escondido suas intenções na quarta-feira. "O primeiro-ministro, Ahmed Davutoglu, a quem encarreguei de formar um governo, pode tomar medidas visando novas eleições ou para formar uma coalizão", declarou. "No entanto, suas opções devem corresponder com as de outro partido. Também não é como se fosse se suicidar se isso não ocorrer".
Desde o início de sua "guerra contra o terrorismo", no dia 24 de julho, a Turquia vive ao ritmo dos ataques diários dos rebeldes curdos, respondendo com bombardeios.
Na quarta-feira, os F-16 americanos, que estão há menos de uma semana na base turca de Incirlik (sul), em virtude de um acordo entre os dois aliados da Otan, bombardearam várias posições do EI na Síria.
A Turquia havia se negado há até poucas semanas a participar das operações da coalizão internacional contra o EI, por medo de favorecer os curdos da Síria que combatem os jihadistas perto de suas fronteiras.
Mas o atentado, atribuído ao EI, que deixou 32 mortos civis em Suruç (sul) em 20 de julho obrigou Ancara a se envolver na luta contra os jihadistas.