O presidente sul-sudanês Salva Kiir assinou nesta quarta-feira um acordo de paz já referendado pelos rebeldes e que acabará com 20 meses de guerra civil no Sudão do Sul, apesar de expressar sérias reservas sobre vários pontos do documento.
Leia Também
A ONU imediatamente deu a Salva Kiir o prazo de até 1o. de setembro para suprimir suas reservas em relação ao plano de paz, segundo indicou a presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a embaixadora da Nigéria, Joy Ogwu.
O primeiro-ministro etíope Hailemariam Desalegn, anfitrião em Addis Abeba durante mais de 18 meses de negociações, o presidente queniano Uhuru Kenyatta e seu colega ugandês Yoweri Museveni - cujo exército combate ao lado das forças governamentais -, bem como o vice-presidente sudanês Bakri Hassan Saleh se reuniram nesta quarta-feira no palácio presidencial em Juba.
"A paz que assinamos hoje contém tantas coisas que devemos rejeitar (...) Ignorar nossas reservas não seria do interesse de uma paz justa e duradoura", afirmou o chefe de Estado sul-sudanês após assinar o acordo.
Ele também denunciou "disposições nefastas" do acordo antes de assinar o texto diante de vários dirigentes da região, constatou um jornalista da AFP.
Na véspera, o Conselho de Segurança da ONU anunciou que agiria imediatamente se o presidente do Sudão do Sul não assinasse o acordo de paz nesta quarta, como está previsto.
E a União Africana (UA) ressaltou que o acordo deveria não só ser assinado, mas também aplicado, apelando as duas partes a uma "sincera reconciliação" e a colocar os "interesses do Sudão do Sul e de seus habotantes acima dos interesses particulares".
Os membros do Conselho disseram que estavam dispostos a atuar imediatamente caso Kiir não assine o acordo, segundo informou o embaixador da Nigéria ante la ONU, Joy Ogwu, que preside este mês o organismo.
Mas o porta-voz de Salva Kiir garantiu que o presidente assinaria.
O governo sul-sudanês não está satisfeito com todos os pontos do acordo, negociado pela organização sub-regional IGAD, mas "o presidente vai assiná-lo", acrescentou o porta-voz.
O líder dos rebeldes, Riek Machar, ex-vice-presidente do país mais jovem do mundo, assinou o acordo na segunda-feira passada, mas Salva Kiir se negou a assiná-lo, apesar de um ultimato lançado pela comunidade internacional.
O ponto de discórdia principal é a proposta de divisão do poder entre o governo e os rebeldes, que pode levar Machar de volta à vice-presidência.
O Instituto de Estudos sobre a Segurança (ISS), com sede na África do Sul, atribuI parte das reticências de Kiir aos "elementos radicais (de seu próprio campo), que se opõem às muitas concessões aos rebeldes".
"Ainda restam muitas incertezas quanto às intenções das partes beligerantes e seu real compromisso em aplicar o acordo", ressaltou o ISS, que considerou que "uma das principais questões é saber a que ponto os líderes das duas partes em conflito tinham o controle sobre seus respectivos campos".
Segundo os observadores, o conflito no Sudão do Sul deixou dezenas de milhares de mortos, incluindo muitos civis.
Um total de 2,2 milhões de sul-sudaneses fugiu de suas casas pelos combates e suas sequências de massacres étnicos e atrocidades. Mais de 70% dos 12 milhões de habitantes precisam de ajuda para sobreviver, segundo a ONU, que adverte para uma ameaça de fome.
A guerra destruiu parte do aparato de produção petrolífera, única fonte de recursos do país, que figura entre os menos desenvolvidos do mundo.