Depois da Alemanha, a Eslováquia e a Áustria anunciaram nesta segunda-feira (14) o restabelecimento dos controles nas fronteiras ante o fluxo de dezenas de milhares de migrantes, suspendendo os acordos de Schengen sobre a livre circulação na Europa, antes de uma reunião em Bruxelas dedicada à distribuição de refugiados.
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Vista como terra prometida pelos refugiados cada vez mais numerosos, que podem chegar a um milhão este ano de acordo com o vice-chanceler Sigmar Gabriel, a Alemanha justificou nesta segunda-feira a decisão de suspender a livre circulação na Europa pela "inação" da UE.
Uma reviravolta do governo da chanceler Angela Merkel, que enfrenta problemas logísticos e o descontentamento de seu campo político, que aconteceu poucos dias depois da chefe de Governo pedir a seus parceiros europeus para acolher os refugiados sem limite de número.
A decisão de Berlim foi acompanhada imediatamente por alguns países do leste europeu - Eslováquia e República Tcheca - que rejeitam há semanas a ideia alemã de cotas de distribuição de refugiados entre os 28 membros da UE, mas também pela Áustria, sob forte pressão.
A Hungria decidiu mobilizar militares em sua fronteira com a Sérvia, onde o fluxo de migrantes tem tomado proporções sem precedentes na véspera da aplicação das novas leis anti-imigração pelo governo.
Mais de 4.500 migrantes se apresentaram ao posto de fronteira de Nickelsdorf entre a meia-noite e 6h00, e milhares de novas chegadas eram esperadas ao longo do dia, segundo a polícia.
O tráfego de automóveis foi interrompido na estrada por razões de segurança.
Na estação ferroviária húngara de Röszke, trens lotados de migrantes partem diretamente para a fronteira austríaca, alimentados por um vai-e-vem contínuo de ônibus do campo de trânsito.
Alemanha no limite de suas capacidades
Ao amanhecer em Freilassing, cidade bávara na fronteira com a Áustria, longos engarrafamentos foram formados, passaportes e veículos são agora controlados pela polícia, que orienta os refugiados diretamente aos centros de acolhimento.
Durante a noite, a polícia prendeu um traficante que transportava oito sírios em sua van.
A capital da Baviera, Munique, está próxima da saturação, com 63.000 refugiados que chegaram em duas semanas pelos Bálcãs e Europa Central. Pelo segundo fim de semana consecutivo, a cidade enfrentou a chegada de cerca de 20.000 demandantes de asilo, alguns dos quais tiveram que dormir ao relento por falta de abrigos.
"A inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite da sua capacidade", alertou o vice-chanceler democrata Sigmar Gabriel.
O problema "não é principalmente o número de refugiados, mas a velocidade com que eles chegam", disse.
Gabriel também estimou que a Alemanha pode ter que receber "um milhão" de migrantes em 2015, embora o ministério do Interior alemão tenha anunciado uma estimativa de 800.000 chegadas.
No entanto, a decisão de restabelecer controles em suas fronteiras não significa que a Alemanha tenha fechado as portas aos demandantes de asilo e aos refugiados, garantiu nesta segunda-feira o porta-voz da chanceler Angela Merkel.
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados advertiu contra "um vácuo jurídico" para os refugiados na Europa com a multiplicação das medidas adotadas isoladamente pelos Estados, e ressaltou a "urgência de uma resposta global europeia" à crise.
Bloqueio europeu
A Comissão Europeia considerou que a suspensão do espaço Schengen "ressalta a urgência" de se chegar a um plano de distribuição europeu. Mas nada poderia ser menos certo.
Um acordo durante a reunião extraordinária de ministros do Interior da UE em Bruxelas nesta segunda-feira é incerto, uma vez que muitos países são contrários à ideia de cotas obrigatórias.
A Grã-Bretanha, que, como a Dinamarca e a Irlanda, dispõe uma opção de rejeição da política de asilo da UE, anunciou nesta segunda-feira a nomeação de um secretário de Estado adjunto para os Refugiados. Londres prometeu receber 20.000 sírios em cinco anos.
A crise migratória, impulsionada pelas guerras e a miséria no Oriente Médio e África, não dá sinais de desaceleração. Um número recorde de 5.809 migrantes entrou na Hungria domingo, antes da data fatídica de 15 de setembro, a partir da qual Budapeste fechará sua fronteira com a Sérvia.
Também no domingo, 34 pessoas, incluindo 11 crianças e quatro bebês, morreram afogadas no Mediterrâneo, no naufrágio do seu barco perto da ilha grega de Farmakonis, a 15 km da costa turca.
A UE anunciou que recorrerá, a partir de outubro, à força militar contra os traficantes, como parte de sua operação naval no Mediterrâneo.