Os jovens gregos que votaram maciçamente na esquerda radical nas legislativas de janeiro para por um fim à austeridade provavelmente vão dar as costas ao ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras nas eleições de domingo (20).
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Em Exarchia, bairro boêmio de Atenas, frequentado por estudantes e anarquistas, qualquer referência a Tsipras provoca um suspiro de resignação ou um insulto.
Sem perspectiva de trabalho - a metade dos jovens com menos de 25 anos está desempregada -, afetados pela pauperização de seus pais, os jovens foram duramente afetados pela crise econômica que castiga a Grécia há cinco anos.
Esta "geração perdida", como é denominada na Grécia, foi seduzida pela promessa do Syriza de resistir aos credores e terminar com a tutela e as políticas de austeridade impostas.
Além disso, Tsipras, de 40 anos, com seu estilo informal e aspecto juvenil, encarnava uma nova forma de governar.
No entanto, apesar de ter ganhado o referendo contra as exigências dos credores, Tsipras deu uma guinada de 180 graus e firmou um terceiro programa de resgate com duras medidas de austeridade.
Este giro deixou Tsipras sem maioria parlamentar, razão pela qual o premiê decidiu renunciar e convocar eleições legislativas antecipadas para obter nova maioria e nova legitimidade.
Em Exarchia, onde os muros estão cobertos de pinturas e grafites de protesto, é difícil encontrar alguém disposto a votar em Tsipras.
"Alexis nos traiu", afirmou Spiros, de 25 anos, estudante de arte dramática sentado em um café ao lado dos amigos.
A maioria deste grupo de jovens se destaca pela abstenção, já que nenhum partido os convence.
"Votei por um governo de esquerda. Queria que ficássemos na Europa, mas em uma Europa com boas regras", disse Alez, de 30 anos.
"O Syriza fez tudo o que disse que não ia fazer", acrescentou, decepcionado.
O desencantamento dos jovens afetou o Syriza internamente, pois a direção de seu movimento juvenil anunciou que não apoiaria Alexis Tsipras nas próximas eleições.
Uma pesquisa publicada há duas semanas no jornal Ethnos atribuía ao Syriza 18,6% dos votos no eleitorado de 18 a 34 anos.
Em janeiro, este setor do eleitorado tinha votado no Syriza em uma proporção de 30%.
"O Syriza perdeu sua imagem juvenil, de esperança e de mudança. É raro ver na Europa tal queda em tão pouco tempo", analisou Manos Papazoglou, professor de ciências políticas da Universidade do Peloponeso.
Embora nos atos eleitorais de Alexis Tsipras os jovens não sejam maioria, Antonios Kaisaris, 19 anos, decidiu ir a um deles para apoiar o ex-premiê.
"Este governo precisa de mais tempo para mostrar o que pode fazer", disse Kaisaris.
"Vamos continuar o combate" para pesar na renegociação da dívida do país.
"Não queremos a volta da direita. Perdemos uma batalha, mas não a guerra", acrescentou.
"Pode haver mudanças significativas" até o dia da eleição, disse Manos Papazoglou, que não exclui uma reação da juventude diante da ascensão do partido conservador Nova Democracia que, segundo as pesquisas, estaria quase empatado com o Syriza.
Afinal, muitos jovens podem se voltar a favor de Tsipras sem entusiasmo e contrariados para impedir a volta do Nova Democracia e o Partido Socialista helênico (PASOK), que dominaram a vida política grega nos últimos 40 anos.
Estes dois partidos, acusados de corrupção e incompetência, são "responsáveis pelo que estamos sofrendo", disse Haris, professor de alemão decidido a votar novamente no Syriza.
"Pelo menos Tsipras não roubou nenhum euro do povo grego", disse, convencido.