A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu nesta quinta-feira (24) aos seus sócios europeus uma solução global e duradoura para acolher os milhares de migrantes que continuam chegando ao continente fugindo da fome e da guerra.
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"Estou profundamente convencida de que a Europa não apenas precisa de uma divisão pontual, mas sobretudo de um processo duradouro para distribuir os refugiados entre os países membros", disse Merkel nesta quinta-feira ante o Parlamento alemão.
"Demos um primeiro passo, mas estamos muito distantes do lugar no qual queremos chegar", acrescentou, em referência ao acordo alcançado na terça-feira pelos países da UE para uma repartição de 120.000 refugiados.
Na França nesta quinta-feira foi registrado um novo drama com a morte de um migrante menor de idade que foi atingido por um trem de carga nas imediações do túnel sob o canal da Mancha.
E na Hungria foi registrada, na quarta-feira, a chegada de 10.046 migrantes, um número recorde até agora, em sua grande maioria procedentes da Croácia. Este número supera o recorde anterior de 9.380 pessoas de 14 de setembro, um dia antes de o governo húngaro fechar a fronteira com a Sérvia, por onde a maioria dos refugiados chegavam.
O fechamento desta fronteira, que provocou confrontos entre a polícia e migrantes, os obrigou a mudar de rota e a entrar na Croácia, cujas autoridades ficaram sobrecarregadas e decidiram dirigi-los novamente de ônibus à Hungria.
Na terça-feira, cerca de 9.000 migrantes entraram na Croácia, outro número recorde, aumentando para 44.000 os que chegaram nesta semana ao país procedentes da Sérvia, um país que não forma parte da União Europeia.
A política do governo húngaro é levar os migrantes diretamente à fronteira com a Áustria sem registrá-los. Como consequência, a região de Burgenland, no leste da Áustria, recebeu apenas na quarta-feira 5.900 pessoas.
Na Áustria, cerca de 5.000 candidatos ao exílio atravessaram a fronteira a partir da Hungria entre meia-noite e meio-dia, segundo novos cálculos. De acordo com a Cruz Vermelha, entre 7.000 e 10.000 poderiam chegar durante o dia.
A grande maioria de migrantes querem chegar a países como Suécia e Alemanha, que tem uma política mais aberta que seus vizinhos e que em 2015 pode receber até um milhão de demandantes de asilo, segundo o governo.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, anunciou nesta quinta-feira que a partir de 7 de outubro a União Europeia intervirá com seus navios militares em águas internacionais do Mediterrâneo contra o tráfico de pessoas.
Mais ajudas europeias
Na madrugada desta quinta-feira, os líderes europeus acordaram em Bruxelas aumentar suas ajudas à Síria e aos países vizinhos para enfrentar os milhares de refugiados que fogem da guerra e dos jihadistas do Estado Islâmico (EI).
Concretamente, os líderes da UE se comprometeram a aumentar o envio de dinheiro à Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), ao Programa Mundial de Alimentos e a outros órgãos da ONU encarregados dos campos de refugiados na Turquia, Jordânia e Líbano.
"Queremos decisões operacionais" - assinala a declaração conjunta - incluindo uma "resposta à necessidade urgente dos refugiados na região" com uma ajuda adicional às agências da ONU "de ao menos 1 bilhão de euros".
O presidente francês, François Hollande, anunciou que a França contribuirá com 100 milhões de euros nos próximos dois anos, enquanto o premier britânico David Cameron prometeu 137 milhões.
Na declaração final da Cúpula, os 28 líderes pediram um "novo esforço internacional" para "acabar com a guerra" na Síria, "que obrigou milhões de pessoas a abandonar seus lares".
Merkel considerou que é preciso falar com o presidente sírio, Bashar al-Assad, para resolver o conflito. "Temos de falar com muitos atores, e isso inclui Al-Assad, mas outros também".
"É preciso falar não apenas com os Estados Unidos, com a Rússia, mas também com os parceiros regionais importantes, o Irã, com países sunitas como a Arábia Saudita", completou a chanceler.
Já Hollande disse que "o futuro da Síria não pode passar por Bashar al-Assad", estimando que "a transição terá sucesso apenas se ele deixar o cargo".
Insuficiente
Ignorando estas negociações, dezenas de milhares de migrantes continuam chegando às fronteiras croata, húngara, grega e italiana.
No entanto, a Hungria - por onde transitaram desde o início do ano 225.000 migrantes - surda às críticas de seus sócios da UE e das ONGs, continua a construção de uma cerca em sua fronteira com a Croácia.
Na terça-feira, também em Bruxelas, os ministros do Interior aprovaram o plano de distribuição de 120.000 refugiados sírios, iraquianos e eritreus chegados de Grécia e Itália, apesar de que a República Tcheca, Eslováquia, Romênia e Hungria tenham votado contra.
A decisão, obtida em uma votação por maioria qualificada e não por consenso, aprofunda ainda mais a fratura entre os membros da UE. Esta se impõe aos quatro países que votaram contra.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, rejeitou o "imperialismo moral" que, segundo ele, a chanceler Angela Merkel tenta impor ao resto da Europa na crise dos refugiados, enquanto seu par eslovaco, Robert Fico, repetiu que seu país "não tem a intenção de respeitar as cotas".
Para a Acnur a distribuição de 120.000 refugiados não é suficiente. A Europa já recebeu quatro vezes mais migrantes desde janeiro. Segundo a OCDE, a UE registrará 1 milhão de pedidos.