A Rússia intensificou neste domingo (4) sua operação de bombardeios na Síria, em uma intervenção que o presidente sírio, Bashar Al Assad, considerou crucial para evitar que a região do Oriente Médio seja "destruída".
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Os aviões russos bombardearam, pelo quinto dia consecutivo, vários alvos na Síria e destruíram posições do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), segundo Moscou.
Mas os países ocidentais voltaram a lamentar que estes bombardeios atingem, sobretudo, os grupos rebeldes que enfrentam Assad e não só o EI.
O presidente sírio, que falava pela primeira vez desde o início da intervenção russa na quarta-feira, considerou indispensável o êxito da coalizão contra "o terrorismo" formada por Síria, Rússia, Irã e Iraque.
"É preciso alcançar o êxito, senão toda a região será destruída e não só um ou dois países", declarou em uma entrevista para a televisão iraniana Khabar.
"O preço a pagar será seguramente alto", completou Assad, que mostrou-se convencido das "grandes possibilidades de êxito" desta coalizão.
Assad, que está há 15 anos no poder e resistiu às revoltas de 2011 que acabaram com vários regimes árabes, sente-se reforçado pela intervenção russa. Com a ajuda de Moscou, espera pôr fim à série de derrotas que suas tropas sofreram nos últimos meses.
O Kremlin informou neste domingo que seus aviões Sukhoi fizeram "20 saídas" em 24 horas e bombardearam "10 alvos dos terroristas do EI".
Erro grave
O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, por sua vez, declarou que a campanha empreendida por Moscou é "inaceitável". "Infelizmente, a Rússia está cometendo um erro grave", declarou em coletiva de imprensa.
Essas ações na Síria são "preocupantes e perturbadoras", dadas as relações amistosas entre Moscou e Turquia, declarou Erdogan, que avisou que isto "isolará a Rússia na região".
Ambos países se opõem sobre a forma de gerenciar a crise na Síria. Moscou é o maior apoio internacional para o regime de Assad, enquanto Ancara sempre defendeu que sua saída do governo é a única solução ao conflito.
Inúmeros líderes ocidentais também exigiram que o presidente sírio abandone o poder. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, fez uma chamado aos russos neste sentido.
"Mudem de caminho, unam-se a nós para atacar o EI, mas reconheçam que se querem uma região estável, necessitamos de outro líder que não seja Assad", declarou neste domingo à BBC.
"De maneira trágica, pelo que podemos comprovar até agora, a maioria dos bombardeios russos ocorreram em zonas da Síria que não são controladas pelo EI, mas por outros opositores ao regime", lamentou Cameron.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, também pediu neste domingo a Moscou que "não se equivoque nos objetivos".
Quem são os moderados
A ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou que, na madrugada do domingo, várias bombas caíram sobre Raqa, a "capital" do EI, que controla cerca da metade do território sírio.
Mas o OSDH não pode determinar se estes ataques foram obras de aviões russos, do regime ou da coalizão antijihadista liderada por Washington.
Segundo a mesma fonte, outros aviões, "aparentemente russos, efetuaram vários ataques contra dois povoados do norte da província de Homs, uma região controlada em sua maioria por organizações rebeldes, como a Frente Al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda.
Um alto oficial do Estado Maior russo, o general Andrei Kartapolov, repetiu no sábado que a Rússia só ataca "terroristas", um termo que, tanto para o regime sírio quanto para o Kremlin, corresponde a todos os grupos que combatem as forças de Assad.
Dmitri Peskov, o porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, lamentou neste domingo que os ocidentais não tenham sido capazes de explicar a Moscou quem formam, segundo eles, a "oposição moderada".