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Dezenas de palestinos incendiaram nesta sexta-feira (16) o túmulo de José em Nablus, local sagrado do judaísmo no norte da Cisjordânia ocupada, ato que deve alimentar a escalada mortal de violência na região.
Ainda nesta sexta, quatro palestinos foram mortos nos Territórios Palestinos. Um deles foi abatido após esfaquear e ferir gravemente um soldado israelense na Cisjordânia ocupada, enquanto se passava por jornalista.
Outro foi atingido por tiros de soldados israelenses durante confrontos perto de Nablus, enquanto dois outros tiveram o mesmo destino na Faixa de Gaza quando protestavam com centenas de outros perto da barreira que isola Israel do enclave palestino.
Violentos confrontos voltaram a ser registrados entre palestinos e soldados israelenses na Cisjordânia ocupada, Belém, Ramallah e Hebrón, não muito distante da cena do ataque do suposto jornalista.
Todas as organizações palestinas haviam convocado, após a grande oração semanal muçulmana, uma "Sexta-feira da Revolução" na Cisjordânia e em Gaza, territórios separados geograficamente por Israel e que desejam formar um futuro Estado palestino.
A Cisjordânia e Jerusalém Oriental, a parte palestina de Jerusalém anexada e ocupada por Israel, vivem sob tensão desde 1º de outubro, com distúrbios que se estenderam para a Faixa de Gaza e que fazem temer uma nova intifada.
Uma juventude aparentemente fora de qualquer controle político expressa sua raiva contra a ocupação e colonização, incentivada pelas redes sociais e por chamados religiosos.
Os confrontos entre palestinos atiradores de pedras e as forças de segurança israelenses são diários, assim como as agressões mútuas entre palestinos e colonos.
'Exacerbar as tensões'
O papel desempenhado pela Esplanada das Mesquitas, local sagrado para muçulmanos e judeus, ou o fato de que muitas vítimas dos ataques a faca eram judeus tem levantado temores de que o confronto ganhe um caráter cada vez mais religioso.
Dezenas de palestinos atearam fogo antes do amanhecer ao túmulo de José com coquetéis molotov, de acordo com a polícia palestina. Para os judeus, esse local abriga os restos de José, um dos doze filhos de Jacó. Mas também é reverenciado por muçulmanos porque abriga o túmulo de uma figura religiosa local, e pelos samaritanos, uma seita separada do judaísmo.
Assim como outros locais religiosos na Cisjordânia ocupada, é um lugar de permanente tensão entre os judeus que visitam e palestinos que vivem nos arredores.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "condenou veementemente este ato condenável" nesta sexta-feira em Nova York durante a abertura do Conselho de Segurança dedicado à situação em Israel e nos Territórios Palestinos.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, descreveu o ataque como um ato "irresponsável".
Esta é a primeira vez que Abbas condena um ato de violência anti-judaica desde o início da escalada da violência. Ele tem sofrido pressão crescente, incluindo do secretário de Estado americano, John Kerry, para condenar os ataques anti-israelenses.
Presença internacional
Desde 1º de outubro, a violência deixou 39 mortos palestinos, incluindo vários autores de ataques, e sete mortos israelenses.
Neste contexto, os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU se reuniram em uma sessão extraordinária para debater a crise.
Enquanto as forças de segurança israelenses foram mobilizadas em massa em Jerusalém para tentar conter a violência, Israel declarou ao Conselho de Segurança que não permitirá o envio de uma força internacional à Esplanada das Mesquitas.
"Permitam-me ser muito claro: Israel não aceitará nenhuma presença internacional no Monte do Templo. Uma presença deste tipo mudar o status quo", declarou o embaixador israelense na ONU, David Roet.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou em várias ocasiões uma mudança deste status quo.
Por sua vez, os palestinos pedem uma proteção internacional para a população civil dos territórios ocupados. Segundo o embaixador palestino Riyad Mansur, ante a situação "explosiva" em Jerusalém Oriental, caberia à ONU encontrar um meio de "fornecer proteção" aos palestinos.
A reunião, convocada pela Jordânia em nome dos países árabes, não deve resultar em nenhuma resolução ou tomada de posição comum do Conselho.
Netanyahu voltou a dizer que está pronto para encontrar o presidente palestino, inclusive na presença do rei Abdullah II da Jordânia, mas voltou a acusar Abbas de incitação à violência.
Pela primeira vez, ele recebeu o apoio firme por parte do secretário de Estado americano. Neste sentido, Kerry declarou que Abbas "deve condenar a violência em alto e bom tom".