O conservador Mariano Rajoy sofreu nesta quarta-feira (23) seu primeiro revés nas negociações para formar um governo após as eleições legislativas, depois que seu adversário socialista Pedro Sánchez descartou facilitar sua reeleição e abriu caminho a um governo alternativo.
A apertada vitória eleitoral de seu
Partido Popular (PP), com 123 assentos, muito distante da maioria absoluta (176), obriga Rajoy a conseguir a abstenção dos 90 deputados socialistas e dos 40 do centrista Ciudadanos para poder governar em minoria.
Para isso, o chefe de governo em fim de mandato se reuniu nesta quarta-feira com o secretário-geral do partido socialista PSOE, Pedro Sánchez, sobre quem recaem todos os olhares, uma vez que o Ciudadanos, a quarta força parlamentar, anunciou sua abstenção para permitir a governabilidade.
Mas Sánchez, ameaçado pela ascensão da esquerda radical Podemos (terceira força com 69 assentos), descartou fazer o mesmo. "Vamos votar contra a continuidade do PP à frente do governo, com Mariano Rajoy como presidente do governo", disse em uma coletiva de imprensa após a reunião.
Em sua opinião, os espanhóis votaram por uma mudança progressista presidida pelo diálogo, que é precisamente o que Mariano Rajoy e o PP não tiveram nos últimos anos.
"Não é a melhor forma de começar", reconheceu após a reunião o vice-secretário de organização do PP, Fernando Martínez Maíllo. Mas "estamos no primeiro assalto (...) Há tempo e espaço suficientes".
Na próxima segunda-feira, Rajoy se reunirá com o líder do
Podemos, Pablo Iglesias, e com o do Ciudadanos, Albert Rivera. O objetivo, segundo Martínez Maíllo, é "dotar a Espanha de um governo estável logicamente liderado pelo partido que venceu as eleições".
Mas seu único apoio até o momento é o centrista Ciudadanos, cujo líder propôs nesta quarta-feira negociar a três partes com conservadores e socialistas para formar um governo que trabalhe pela unidade e pela regeneração política do país.
Segundo Rivera, cujo partido nasceu na Catalunha para combater o nacionalismo, "o Podemos se autoexcluiu de qualquer acordo para garantir a unidade na Espanha" ao se aliar regionalmente com partidos nacionalistas e defender um referendo de autodeterminação na
Catalunha.
Rivera exigiu responsabilidade aos socialistas para evitar um bloqueio institucional e "que ocorram eleições a cada três meses". Efetivamente, se não há um chefe de governo dois meses depois da primeira votação de investidura, as eleições precisam ser repetidas.
"O acordo não é fácil, mas acredito que finalmente o PSOE permitirá que o PP governe para evitar novas eleições onde o mais reforçado seria o PP, que recuperaria o voto do Ciudadanos e da abstenção", explicou o cientista político e analista Nacho Martín Blanco, próximo aos conservadores.
Governo alternativo
"As eleições têm que ser a última opção", reconheceu Sánchez. Antes, se Rajoy não conseguir os apoios necessários, "vamos explorar todas as possibilidades para que exista um governo de mudança", afirmou.
Este governo alternativo passaria por uma hipotética coalizão com o Podemos à qual deveriam se somar outras forças políticas como o Ciudadanos, que já descartou este tipo de aliança, ou com os independentistas catalães, que exigem um referendo de autodeterminação rejeitado por parte do PSOE.
De fato, o Podemos é o único dos quatro partidos que defende esta consulta nesta região do nordeste da Espanha, onde os partidos separatistas dispõem de maioria absoluta no Parlamento regional e declararam recentemente o início de um processo de secessão.
"Queremos que a Catalunha siga na
Espanha e acreditamos que a melhor forma de alcançar este acordo é que os catalães decidam", explicou na televisão pública Iñigo Errejón, o número dois desta formação que concorreu às eleições em alianças regionais com partidos nacionalistas.
Além do referendo, insistiu, seu partido exige uma reforma constitucional para garantir os direitos sociais como a saúde ou a habitação e uma luta contra a corrupção a partir as instituições. "É um pacote completo, um conjunto de transformações", disse.
Todas estas seriam condições necessárias para um suposto pacto com o PSOE para formar um governo que, em sua opinião, poderia ser liderado por uma pessoa independente que gere consenso entre os diferentes partidos.