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O presidente francês, François Hollande, inaugurou nesta terça-feira (5) três placas em homenagem às vítimas dos atentados de janeiro de 2015 em Paris, a primeira de uma série de cerimônias para recordar os ataques jihadistas que deixaram 17 mortos.
O chefe de Estado inaugurou, em um primeiro momento, uma placa "em memória das vítimas do atentado terrorista contra a liberdade de expressão" na antiga sede do semanário satírico Charlie Hebdo.
O ataque, executado em 7 de janeiro pelos irmãos jihadistas Said e Sherif Kouachi, terminou com 11 mortos.
A placa continha um erro no nome do desenhista Georges Wolinski (que se escreve com o i e não y no final). A prefeitura de Paris anunciou que o problema seria corrigido provisoriamente ainda nesta terça-feira, à espera de uma nova placa definitiva.
A viúva de Wolinski, Maryse, expressou seu descontentamento, afirmando que "esta manhã quando vi o 'Y', fiquei furiosa (...) Ele não gostava quando isso acontecia, posso garantir".
Ao lado da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e do primeiro-ministro Manuel Valls, Hollande inaugurou outra placa em uma avenida próxima, onde um policial, Ahmed Merabet, foi morto pelos irmãos Kouachi.
O chefe de Estado também inaugurou uma terceira placa perto do supermercado kosher da zona leste de Paris que foi atacado em 9 de janeiro pelo jihadista Amédy Coulibaly, que matou três clientes e um funcionário, todos judeus.
O texto presta homenagem "às vítimas do atentado antissemita de 9 de janeiro 2015".
As três cerimônias foram muito curtas e respeitaram um minuto de silêncio, na presença das famílias das vítimas.
Lassana Bathily, o funcionário muçulmano que salvou vários clientes, escondendo-os nas câmaras frigoríficas do mercado, declarou à AFP que estava triste com este aniversário.
"Em nossos corações prestamos uma homenagem às vítimas", declarou o imigrante de origem malinense, que recebeu a nacionalidade francesa como reconhecimento.
Entre os mortos do ataque ao Charlie Hebdo estavam chargistas muito famosos como Charb, o diretor de redação, mas também o policial Franck Brinsolaro, seu segurança.
A viúva do oficial decidiu apresentar uma denúncia por "homicídio culposo" e seu advogado citou "falhas" nos serviços de inteligência.
"Para mim, Franck foi sacrificado, não há outra palavra. Via os erros, lamentava a falta de segurança nos locais", declarou Ingrid Brinsolaro em uma entrevista à imprensa francesa.
Em resposta, o ministro do Interior Bernard Cazeneuve declarou que respeita a denúncia, mas assegurou que a segurança do escritório da Charlie Hebdo era adequada.
Incógnitas um ano depois
Um ano depois dos ataques ainda existem incógnitas sobre o arsenal exibido pelos assassinos, assim como sobre a vigilância dos criminosos nos meses anteriores aos atentados.
Os irmãos Kouachi, fichados pela polícia, que tinha conhecimento da radicalização de ambos, ficaram sob escuta durante meses, mas a vigilância foi abandonada. Amédy Coulibaly era considerado um criminoso comum, apesar de seu envolvimento em vários casos de islamismo que estavam nos tribunais.
"Sim, passou batido", admitiu no ano passado um integrante da Direção Geral de Segurança Interna (DGSI) que pediu anonimato.
Os atentados de janeiro de 2015 deixaram 17 mortos. Além das vítimas fatais no Charlie Hebdo e no supermercado kosher, uma policial foi assassinada por Coulibaly em 8 de janeiro em Montrouge, sul de Paris. No sábado será inaugurada uma placa no local de sua morte.
As cerimônias terminarão no domingo na Praça da República com uma cerimônia de recordação aos mortos de janeiro, mas também aos 130 falecidos nos atentados de 13 de novembros, os mais violentos da história da França.
Na data está prevista a instalação de uma "árvore da recordação", um carvalho de 10 metros de altura, nesta praça que se transformou em um local de homenagem às vítimas.
O cantor Johnny Hallyday interpretará a canção "Un dimanche de janvier" ("Um domingo de janeiro"), que recorda as grandes manifestações de 11 de janeiro de 2015, que contaram com a presença de quatro milhões de franceses.
"Apesar da tragédia, a França não cedeu. Apesar das lágrimas permaneceu de pé", disse Hollande em 31 de dezembro, em sua mensagem de fim de ano, antes de advertir que a ameaça de novos ataques "prossegue".