O chefe de Gabinete da Presidência da Argentina, Marcos Peña, disse nessa terça-feira (5) que o governo está “tranquilo” após o nome do presidente argentino, Mauricio Macri, ter sido citado como controlador de uma segunda offshore nas Bahamas, a Kagemusha. Segundo Peña, não há motivo para preocupação porque “as sociedades foram declaradas ao fisco argentino” e “não há nada de oculto”.
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Macri também foi citado como como vice-presidente da Fleg Trading, uma sociedade que funcionou nas Bahamas de 1998 até o final de 2008, quando foi dissolvida, nos Panamá Papers, uma investigação jornalística publicada no último sábado (2) pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, sigla em inglês).
Na segunda-feira (4), o próprio Macri deu entrevista assegurando que não fez nada ilegal e elogiando a publicação dos Panamá Papers: 11,5 milhões de documentos, do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, especializado na abertura de empresas em paraísos fiscais.
O acervo da Mossak Fonseca foi entregue, por uma fonte anônima, ao jornal alemão Suddeutsche Zeitung, que decidiu compartilha-lo com o CIJI. A apuração – da qual participaram 376 jornalistas de 76 países, inclusive o Brasil – durou um ano e revelou como 143 políticos (entre os quais doze atuais e ex-chefes de Estado e de governo) tem feito uso de paraísos fiscais.
Declarações de bens
Ter uma empresa offshore não é crime, a não ser que a empresa seja usada para atividades ilegais, lavagem de dinheiro ou evasão de impostos. No caso de Macri, a investigação apontava para o fato de que ele não incluiu a Fleg Trading nas declarações de bens feitas em 2008 e 2009, quando ele era prefeito da capital argentina, Buenos Aires.
A assessoria da Casa Rosada divulgou uma nota, no mesmo dia da publicação dos Panamá Papers, justificando a omissão. Segundo a nota, Macri não tinha o que declarar, pois ele não tinha participação acionária na empresa e apenas ocupava um cargo formal, sem remuneração.
Investimentos
Na entrevista feita na segunda-feira, Macri explicou que a Fleg Trading foi aberta para investir em projetos no Brasil, mas acabou sendo dissolvida no final de 2008 porque os investimentos acabaram não sendo feitos. A sociedade, segundo o presidente, sempre funcionou dentro da lei e foi devidamente declarada ao fisco argentino pelo pai dele, o empresário Franco Macri, que controla os negócios da família.
Segundo Peña, a situação de Macri na Kagemusha é igual a da Fleg Trading. “Uma companhia que pertencia ao seu pai, criada por alguma razão e que acabou não realizando suas atividades, onde os membros da família foram nomeados diretores porque eram de confiança”. Mas, ao contrário da Fleg Trading, a Kagemusha continua ativa e teria um capital de US$ 10 mil.
A oposição criticou o presidente, que assumiu em dezembro passado com a promessa de um governo “transparente” e “tolerância zero com a corrupção”. Legisladores da Frente para a Vitoria (da ex-presidenta Cristina Kirchner) exigiram maiores esclarecimentos. Macri entregou documentos a sua aliada política, Elisa Carrio, provando que a empresa tinha sido declarada pelo pai.
Cristina Kirchner
No dia 13, a ex-presidenta Cristina Kirchner (antecessora de Macri) foi chamada para depor perante a Justiça, que investiga uma operação de venda de dólares a futuro feita no fim de seu segundo mandato. O Banco Central teria vendido reservas em moeda norte-americana a valores inferiores aos do mercado.
Na terça-feira (5) o empresário Lazaro Baez foi detido. Ele é suspeito de ser o testa-ferro da família Kirchner e está sendo investigado por lavagem de dinheiro. Baez foi convocado para prestar depoimento à Justiça na quinta-feira (7).