O escândalo dos "Panama Papers" entrou nesta quinta-feira (7) na campanha das prévias americanas: o democrata Bernie Sanders acusou a rival, Hillary Clinton, de ter uma responsabilidade no caso.
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Sanders acusou a ex-secretária de Estado de ter apoiado, há cinco anos, um acordo de livre-comércio entre Panamá e Estados Unidos. Segundo ele, o acordo "facilitou aos ricos e às empresas de todo o mundo evitar o pagamento de impostos em seus países".
"Recentemente, ela disse que eu não sou, entre aspas, qualificado para ser presidente", declarou Sanders. "Deixem-me dizer a vocês, em resposta a Hillary, que eu não acho que ela está qualificada, se, por meio de seu Super PAC (um comitê que arrecada fundos para sua campanha), obtém dezenas de milhões de dólares de grupos de interesses particulares", como grupos de pressão.
"Não acho que você esteja qualificada se votou a favor da desastrosa guerra no Iraque. Não acredito que você esteja qualificada (para ser presidente) depois de ter apoiado o acordo de livre-comércio com o Panamá, ao qual me opus intensamente", declarou o senador por Vermont em um comício eleitoral na quarta-feira à noite.
Nesta quinta-feira (7), ele voltou a atacar pelo mesmo flanco, acrescentando que a ex-senadora apoiou "quase todos os acordos comerciais que custaram milhões de empregos dos trabalhadores americanos".
Hoje, um dos porta-vozes de campanha de Hillary Clinton criticou Sanders por seus ataques.
"É um ataque absurdo. E, provavelmente, o mais baixo que se viu na retórica do lado democrata", disse Brian Fallon.
Já o diretor de campanha de Sanders, Jeff Weaver, afirmou que, se a campanha de Hillary quer "uma abordagem mais dura, (estamos) encantados de dá-la".
A equipe de Sanders recordou que o pré-candidato à Casa Branca, ferozmente contrário ao acordo, fez a previsão de que os ricos e poderosos poderiam ocultar mais facilmente seu dinheiro no Panamá graças ao acordo.
Hillary Clinton foi contra o acordo em 2008, quando estava em campanha contra Barack Obama durante as prévias democratas da corrida presidencial. Depois disso, porém, ajudou a promovê-lo no Congresso, quando era secretária de Estado, recorda a equipe de campanha de Bernie Sanders.
Apesar de estar consideravelmente atrás da rival no que diz respeito ao número de delegados obtidos até agora nas prévias, o democrata socialista, de 74 anos, que propõe uma revolução política, continua freando o avanço de Hillary Clinton para a indicação do partido.
Os democratas apontam as baterias para Nova York, onde acontece a próxima votação, em 19 de abril. Ambos questionam as credenciais do outro para assumir eventualmente a presidência.
O tratado de livre-comércio entre Estados Unidos e Panamá foi aprovado em 2011 pelo Congresso americano, após vários anos de negociações.
Hillary no metrô
Depois de perder na quarta-feira (6) a primária de Wisconsin, a ex-secretária de Estado disse ontem, na Filadélfia, que Bernie Sanders "não tem absolutamente qualquer plano em uma quantidade importante de questões".
Nesse sentido, ela se referiu a um dos temas-chave de sua campanha: o desmantelamento dos grandes bancos, sobre o qual Sanders se referiu de maneira vaga em uma entrevista ao jornal "Daily News".
"É importante dizer às pessoas o que você vai fazer por elas, como vai fazer, como os resultados podem ser obtidos", insistiu a ex-primeira-dama nesta quinta, durante uma visita ao Bronx, na qual tomou o metrô pela primeira vez em dois anos, como ela mesma confessou.
Liderando as pesquisas em Nova York, a ex-secretária de Estado também atacou Sanders, que declarou, na mesma entrevista, ser contra um eventual processo contra os fabricantes de armas pela tragédia da escola de Sandy Hook. Em dezembro de 2012, uma pessoa matou 20 crianças nessa instituição.
"Bernie Sanders dá prioridade aos direitos dos fabricantes de armas em detrimento dos pais das crianças assassinadas em Sandy Hook", comentou Hillary no Twitter.
Essa guerra entre os dois pré-candidatos democratas continuará no debate de 14 de abril, no Brooklyn, e em outras frentes: entrevistas, comícios e redes sociais.
Em uma nova pesquisa da CBS News/YouGov, Hillary aparece com 53% das intenções de voto no estado, contra os 43% de Sanders, que nasceu e cresceu no Brooklyn.