O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, advertiu nessa quarta-feira (18) que já tem pronto um decreto de "comoção interna" para o caso de atos de violência dos "golpistas", como parte do estado de exceção que vigora no país.
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"É um recurso que tenho como chefe de Estado caso na Venezuela ocorram atos golpistas violentos, e não duvidarei em adotá-lo, se necessário, para lutar pela paz e pela segurança deste país (...). Espero que não seja preciso, mas estarei pronto", afirmou Maduro em um ato em Guanta, no estado Anzoátegui.
Maduro não precisou em sua declaração o alcance do decreto de "comoção interna", mas a medida implica em restrição de liberdade, após o estado de emergência econômica e de exceção declarado na sexta-feira passada.
Segundo a Constituição, o estado de comoção interna pode ser decretado pelo presidente "em caso de conflito interno ou externo, que coloque seriamente em risco a segurança da Nação", com prazo máximo de 180 dias.
Maduro, contra quem a oposição promove um referendo revogatório de mandato, afirma que a oposição tem como estratégia provocar a violência e propagar a ideia de que a Venezuela enfrenta uma "crise humanitária" para justificar uma intervenção dos Estados Unidos.
A advertência de Maduro ocorre após protestos convocados pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) em cerca de 20 cidades, que terminaram com ao menos 30 detidos em todo o país, segundo seus organizadores.
O líder da oposição e governador do estado de Miranda (centro), Henrique Capriles, afirmou em coletiva de imprensa que "houve 23 mobilizações e em cinco ocorreram problemas", os quais atribuiu a sujeitos "infiltrados" por ordem do governo para causar distúrbios na via pública.
"Já tínhamos saído e me dizem que houve incidentes, todos dirigidos por infiltrados do governo", que esperaram que a dirigência opositora se retirasse do protesto, afirmou Capriles.
Segundo ele, "houve alguns fatos que o governo pretenderá utilizar, esconder-se atrás disso" para desqualificar a manifestação.
Detenções
A oposição reportou, ainda, 17 detenções no estado de Nueva Esparta (leste), a queima ou retenção de ônibus dos manifestantes nos estados de Barinas e Mérida (sudoeste); e lançamentos de bombas de gás lacrimogêneo e disparos de cartuchos em Carabobo (centro).
Em Caracas, policiais e militares impediram que mil manifestantes chegassem à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), dispararam bombas de gás lacrimogênio e detiveram pelo menos sete pessoas na estratégica avenida Libertador, constaram jornalistas da AFP.
Segundo o ministro do Interior, Gustavo González, "por atos violentos protagonizados em Caracas hoje capturamos sete sujeitos vinculados a organizações violentas com finalidades políticas".
As sete pessoas foram detidas na Praça Altamira, no município Chacao (leste de Caracas), e levadas para a Penitenciária 26 de Julho, em San Juan de Los Morros, capital do estado de Guárico.
O ministro mostrou imagens de manifestantes agredindo policiais e afirmou que um dos detidos "confessou que um grupo de jovens recebeu financiamento do chefe da segurança de um deputado de direita da Assembleia Nacional para participar das ações violentas".
O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, revelou que o segurança em questão é conhecido como "Coromoto", ligado ao presidente da Assembleia, Henry Ramos Allup.
Cabello disse ainda que sete membros da polícia - duas mulheres e cinco homens - foram atendidos com traumatismos e cortes após agressões de manifestantes.
"Um grupo agrediu nossas mulheres (policiais) e esta gente está sendo detida".
No total, calcula-se pelo menos 30 detidos em todo o país.
Henrique Capriles explicou que a mobilização desta quarta-feira foi em defesa da Constituição e do referendo, e destacou que cumpriu o objetivo de que o Conselho Nacional Eleitoral recebesse um documento da MUD que relata o que consideram violações de Maduro ao processo de convocação da consulta.
Embora a marcha da oposição não tenha podido chegar à sede do CNE, no centro de Caracas, os dirigentes da MUD entregaram um documento a um dos cinco diretores principais da entidade, Luis Emilio Rondón, vinculado à oposição, que foi ao local e prometeu submetê-lo ao plenário do organismo.
O CNE é acusado pela oposição de estar sob controle do chavismo.