O campo favorável ao Brexit chama o Banco da Inglaterra de "desonesto", a comunidade empresarial demonstra crescente preocupação e uma nova pesquisa anuncia uma saída da União Europeia: a tensão atingiu um novo patamar nesta quinta-feira (16) no Reino Unido a uma semana para o referendo.
Leia Também
Muito esperada, a pesquisa Ipsos-Mori, realizada por telefone de 11 a 14 de junho com 1.257 pessoas, apontou pela primeira vez uma liderança do "Leave", com 53% contra 47% para o campo favorável à permanência do país no bloco europeu.
Há um mês, o mesmo instituto apontava o "remain" (permanecer) como vencedor, com 57% das intenções de voto contra 43%.
"Uma reviravolta sensacional", comentou o jornal Evening Standard, que nesta quinta-feira publicou a pesquisa, insistindo, no entanto, que "20% dos entrevistados disseram que ainda podem mudar de posição".
A pesquisa, que revela que a migração tornou-se a principal preocupação dos britânicos à frente da economia, reforça ainda mais a crescente ansiedade que começa a alcançar os círculos financeiros.
A Bolsa de Londres abriu novamente em baixa nesta quinta, com as posições dos principais bancos do Reino Unido vulneráveis e com muitas pessoas migrando para portos seguros, como títulos ou ouro.
"Com as várias pesquisas, a Citty está começando a levar a ameaça muito a sério", disse Joe Rundle, diretor de operações da ETX Capital.
"Os mercados buscam a todo custo evitar os riscos", acrescentou, enquanto que a presente do Banco Central americano (Fed), Janet Yellen, indicou na quarta-feira que o referendo britânico poderia "ter consequências econômicas e financeiras a nível mundial".
'Ato gratuito de automutilação'
O Financial Times, o jornal econômico britânico, declarou, sem surpresa, ser a favor da permanência na UE, uma posição contrária a do tablóide The Sun, que chamou seus leitores a escolher o Brexit.
"Abandonar a causa de uma reforma construtiva da Europa, que é verdade que é imperfeita, seria derrotista. Seria um ato gratuito de auto-mutilação", escreveu o Financial Times em seu editorial.
Por sua vez, o governo britânico continua a multiplicar as advertências para dissuadir os eleitores de optar por um Brexit em 23 de junho.
O ministro das Finanças George Osborne afirmou que uma saída da União Europeia poderia desencadear um "orçamento de emergência" que resultaria em aumentos de impostos e cortes de gastos para compensar um buraco de 30 bilhões de libras (38 bilhões).
Escolas, hospitais e o exército veriam o seu orçamento reduzir, advertiu Osborne. "Sair da UE afetaria o investimento, provocando danos às famílias e à economia do Reino Unido", alertou.
"Isso significa um aumento dos impostos, cortes no orçamento, mais empréstimos", acrescentou o primeiro-ministro David Cameron, já acusado por seus adversários de conduzir uma política de austeridade à custa dos mais pobres.
Ataque contra o Banco da Inglaterra
O aviso provocou imediatamente a ira do campo pró-Brexit e alimentou os atritos dentro de um partido conservador profundamente divididos sobre a questão.
Escaldado pelas declarações de Osborne, 65 deputados conservadores pró-Brexit acusaram o ministro de planejar um orçamento "punitivo" se a saída do bloco dos 28 for concretizada, avisando que iriam se opor.
Nesta quinta-feira, quatro líderes do partido conservador, incluindo dois ex-ministros das Finanças, denunciaram no Daily Telegraph uma "tentativa ridícula e desesperada de assustar" as pessoas.
Norman Lamont, Nigel Lawson, Iain Duncan Smith e Michael Howard também acusaram o Tesouro britânico e o Banco da Inglaterra serem "desonestos" e de fazerem "previsões distorcidas".
"Muito preocupante que a campanha do 'Leave' critique o Banco da Inglaterra, que é independente. Devemos ouvir os especialistas quando eles nos alertem para os riscos para a nossa economia se deixarmos a União Europeia", respondeu David Cameron no Twitter.
George Osborne e Mark Carney, o governador do Banco da Inglaterra, devem manter a pressão em seu discurso anual nesta quinta-feira à noite para a City.
"A campanha para a permanência vai nos prometer até mesmo a pobreza, a fome e, talvez, uma praga de gafanhotos", brincou Nigel Farage, líder do partido eurofóbico UKIP.