Legitimado pelo voto e reverenciado por muitos como o salvador da democracia após o golpe fracassado, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan certamente agora tem um poder maior, porém mais em termos de imagem e mais simbólico do que na prática.
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Desde que voltou de suas férias antecipadamente - para a alegria dos habitantes de seu feudo de Istambul - no meio da noite dramática da tentativa de golpe, Erdogan se tornou onipresente.
É visto todos os dias na televisão, indo de mesquita em mesquita para os funerais dos "mártires" do golpe, declarando uma guerra feroz ao "vírus" da rebelião em meio a um mar de bandeiras vermelhas turcas, cumprimentado os fiéis que beijavam suas mãos.
Ouvimos Erdogan chamar o povo a ocupar as ruas para apoiá-lo e até mesmo prometeu restabelecer a pena de morte a uma multidão que gritava ardentemente: "Queremos a pena de morte" para os golpistas.
Em um impulso ecumênico raro, todos os partidos políticos, a comunidade empresarial e sindical apoiaram Erdogan. O "sultão" Erdogan se mostrou indestrutível, inoxidável.
Erdogan está agora "de mãos livres", preocupa-se Dorothée Schmid, especialista na Turquia no IFRI.
"Ele terá agora plenos poderes, com uma psicologia de vingança e controle totalitário do país", afirma, preocupada, enquanto o chefe de governo turco já demonstrou no passado uma enorme capacidade para punir aqueles que o traíram.
Mas, na verdade, ele "lidera um Estado cada vez mais desorganizado", que evoca "um país que é difícil de controlar", acredita.
O presidente turco também não pode punir demais um exército de que precisa fundamentalmente para enfrentar a rebelião curda e a guerra síria à sua porta, ressaltam os analistas.
Faruk Logoglu, ex-embaixador da Turquia em Washington, teme "que esta tentativa de golpe de Estado reforce os poderes de Erdogan e permita que ele reduza as liberdades que ainda restam".
Isso inclui, impulsionar sua ambição de criar um sistema presidencial, enquanto ele já dispõe de poder político, econômico e midiático sem precedentes na Turquia moderna.
- Os mesmos obstáculos -
Bayram Balci, do centro de ciências políticas Ceri, não hesita em chamar esse golpe de "dádiva de Deus" em termos de imagem para Erdogan.
"Agora ele se apresenta como um salvador da democracia, e isso irá aumentar o seu poder", diz o pesquisador.
Mas, ainda assim, ele adverte para conclusões precipitadas sobre as consequências do golpe.
Em relação a presidencialização do regime desejada por Erdogan, "mesmo que ele se comporte como um herói, ainda precisará do mesmo número de deputados" para a necessária revisão da Constituição.
"Portanto, continua a enfrentar os mesmos obstáculos" em toda a estrada.
O partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de Erdogan não tem uma maioria de dois terços necessária para aprovar uma reforma constitucional que conduza a um sistema presidencial.
"No momento, também não é possível realizar um referendo". "A única coisa que pode fazer é convencer alguns deputados a apoiá-lo" neste projeto, acrescenta o pesquisador.
Portanto, o principal efeito do pós-golpe é "puramente simbólico e psicológicoa" para Balci.
Erdogan "vai, de fato, ser visto como uma personalidade muito forte. Ele tem grande carisma, mostrou muita autoridade e autoritarismo".
Mas a Turquia está presa a uma guerra interminável contra os curdos, sofre com atentados curdos ou de extremistas e com o conflito na sua vizinha Síria. E agora uma tentativa de golpe fracassada.
A encenação da mídia durante o período pós-golpe finalmente responde a "uma falta de confiança da Turquia no processo político", observa Schmid.