Os habitantes dos bairros rebeldes de Aleppo se encontravam escondidos dentro de casa nesta sexta-feira (29), aterrorizados pela ideia de utilizar "os corredores da morte" abertos pelo regime para evacuar as áreas sitiadas da cidade, cuja tomada pelo exército pode vir a atingir mortalmente a rebelião.
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Depois de semanas de bombardeios e cerco dos bairros rebeldes, o regime abriu corredores para incentivar civis e combatentes que desejarem depor as armas com o objetivo de tomar mais rapidamente e completamente a segunda maior cidade do país.
A abertura desses corredores, anunciada pela Rússia, aliada de Bashar al-Assad, foi apresentada com um propósito "humanitário", mas a oposição, analistas e rebeldes questionam essa intenção.
O regime também retomou os bombardeios contra os bairros rebeldes de Aleppo, onde vivem cerca de 250.000 habitantes, sitiados desde 17 de julho.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), apenas "uma dúzia de pessoas conseguiu sair através de um dos corredores a partir do bairro de Bustane al Qasr".
"Mas logo os grupos rebeldes reforçaram as medidas de controle em relação aos corredores, impedindo que os habitantes se aproximassem", acrescentou. "Concretamente, os corredores estão fechados do lado rebelde da cidade.
A antiga capital econômica da Síria está dividida desde 2012 entre bairros controlados pelo regime no oeste e nas zonas do leste, nas mãos dos rebeldes.
As tropas do presidente Bashar al-Assad tentam há meses reconquistar o setor rebelde, cercado desde 17 de julho, com o lançamento de barris de explosivos e bombardeios que também contaram com a participação da força aérea russa.
Segundo os analistas, a perda de Aleppo pode significar o início do fim da rebelião e representar um ponto de viragem determinante na guerra síria, que já deixou mais de 280.000 mortos em cinco anos.
''PARTIR OU MORRER DE FOME''
Nesta sexta-feira, as ruas de vários rebeldes estavam desertas, sem que os moradores se arriscassem a sair de casa, segundo um correspondente a AFP no local.
"Não há corredores humanitários em Aleppo. Os corredores dos quais os russos falam, os moradores de Aleppo chamam de 'corredores da morte'", declarou à AFP Ahmad Ramadan, membro da Coalizão de oposição no exílio.
Ele denunciou "a destruição completa e sistemática da cidade, uma tentativa de dobrar seus habitantes".
"A mensagem brutal para o nosso povo: partam ou morram de fome", afirmou, por sua vez, Bassma Kodma, outro membro da oposição.
Nesta sexta, o regime proclamava vitória, com a televisão estatal utilizando o slogan "Aleppo vitoriosa".
Para Karim Bitar, diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, "o povo de Aleppo enfrenta um dilema terrível, tem a escolha entre arriscar morrer de fome ou arriscar morrer na fuga".
"A queda de Aleppo seria uma grande derrota para os rebeldes. Significaria que Assad e (o presidente russo Vladimir) Putin assumiram (...) o controle", acredita.
''RENDIÇÃO''
O regime recorreu à tática do cerco para sufocar a rebelião em várias regiões do país, onde o conflito ganhou em complexidade com o envolvimento de vários atores sírios e estrangeiros, além dos grupos extremistas islâmicos.
"Os russos e o regime querem obrigar as pessoas se renderem. O que querem é uma rendição" em Aleppo, declarou uma fonte ocidental.
A França afirmou nesta sexta que os "corredores humanitários" não são uma "resposta concreta" para a situação, considerando que o "direito internacional humanitário exige que a ajuda humanitárias possa ser entregue com urgência" para as populações sitiadas.
"O povo de Aleppo tem que ficar em suas casas com segurança e obter toda a ajuda de que necessitam. Esta é a prioridade", insistiu o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Romain Nadal.
Já a ONU se ofereceu para controlar os corredores humanitários, segundo informou Staffan de Mistura, enviado especial para a Síria, que considerou que as "Nações Unidas e seus parceiros humanitários sabem o que fazer por sua experiência".
Além de Aleppo, os rebeldes controlam setores da província de Damasco e algumas regiões do sul do país. As outras áreas estão nas mãos do regime ou dos extremistas.
Paralelamente, na província síria de Idleb (nordeste), uma maternidade mantida pela Save the Children foi bombardeada, informou a ONG em seu Twitter, que fala de vítimas.
O Observatório Sírios dos Direitos Humanos (OSDH), por sua vez, informou que um hospital na localidade de Kafar Takharim, na mesma província, havia sido bombardeado nesta sexta e que não estava mais operacional.
Segundo a Save the Children, o hospital atendia cerca de mil pessoas.