Um bombardeio neste sábado (17) contra o exército sírio, em uma área onde as tropas estão cercadas pelo grupo Estado Islâmico (EI), deixou dezenas de mortos, um ataque em plena trégua que Damasco e Moscou atribuíram à coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
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"Caças de guerra da coalizão bombardearam uma das posições do exército sírio (...) perto do aeroporto de Ezzor", indicou o comunicado, ressaltando que havia baixas, embora sem informar detalhes.
A coalizão internacional contra o grupo Estado Islâmico (EI) afirmou que bombardeou o que achava ser uma posição de combate jihadista na Síria, mas que interrompeu a operação depois do alerta de Moscou sobre a possibilidade de serem militares sírios.
"A Síria é um teatro de operações complexo, com diferentes forças militares e milícias que atuam em um perímetro próximo, mas a coalizão jamais atacaria intencionalmente uma unidade militar síria", diz o comunicado do comando de forças americanas no Oriente Médio. Várias dezenas de militares sírios teriam sido mortos no bombardeio.
O exército russo confirmou que 62 soldados foram mortos em um ataque.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) assegurou que foram pelo menos 30 militares mortos.
O aeroporto de Deir Ezzor, no leste da Síria, está cercado por combatentes do grupo Estado Islâmico (EI).
Na Síria está vigente uma trégua negociada pelos Estados Unidos e Rússia desde segunda-feira, embora esteja sendo violada.
Essa trégua abrange o exército sírio e os grupos rebeldes, mas não os considerados mais extremistas, o EI e a frente Fateh al Sham.
As posições do EI são consequência regularmente bombardeadas pela coalizão liderada por Estados Unidos e pela Rússia.
O bombardeio em Deir Ezzor "é um ataque ousado e perigoso contra o Estado e o exército sírio, e uma clara evidência de que os Estados Unidos e seus aliados apoiam o grupo terrorista Daesh", diz o comunicado sírio, referindo-se ao EI.
A situação na Síria se deteriora
Depois de, na sexta-feira, as violações à trégua terem resultado em violentos combates e na morte de civis, o general ruso Vladimir Savchenko advertiu em uma videoconferência com o Estado Mayor russo que "a situação na Síria se deteriora".
"Nas últimas 24 horas, o aumento de ataques cresceu fortemente", com 55 ataques contra posições do governo e contra civis, acrescentou, acusando os rebeldes de "aproveitar a trégua para se reagrupar e se reabastecer com munições e armamento".
A Rússia acusou novamente os Estados Unidos de não cumprir seus compromissos no âmbito do acordo de cessar-fogo na Síria, anunciado por Moscou e Washington em 9 de setembro em Genebra.
"Se a parte americana não tomar medidas apropriadas para cumprir com seus compromissos como parte do acordo (...), serão totalmente responsáveis pelo fracasso do cessar-fogo em território sírio", afirmou o general Viktor Poznikhir, do Estado-Maior russo, em uma coletiva de imprensa.
O presidente russo, Vladimir Putin, em viagem ao Quirguistão, disse estar otimista, mas acusou a oposição síria de continuar ativa.
"Vemos tentativas de se reagruparem entre estes terroristas, tentam mudar (...) de nome para preservar suas capacidades militares", declarou, segundo a agência de notícias Intefax.
Segundo Putin, Washington enfrenta um "problema bastante difícil (...) de separar a oposição (do presidente sírio, Bashar al-Assad) dos terroristas".
Segundo o acordo, os Estados Unidos devem pressionar para que os rebeldes sírios se distanciem claramente dos extremistas da Frente Fateh al-Sham (ex-Frente al-Nosra), excluídos da trégua, assim como o grupo Estado Islâmico (EI).
Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU cancelou no último minuto de sexta-feira uma reunião a pedido de Estados Unidos e Rússia, os dois padrinhos da trégua.
A reunião, considerada a "última possibilidade de acordo" deveria permitir examinar a possibilidade de uma resolução para apoiar o acordo de trégua, entregar ajuda humanitária e favorecer uma solução política à crise síria.
Ajuda humanitária não chega
Dezenas de milhares de civis, em particular nos bairros rebeldes sitiados de Aleppo, não receberam ainda a ajuda humanitária prometida.
As partes em conflito não se retiraram da rota do Castello, situada ao norte da cidade e escolhida pela ONU para levar a ajuda humanitária aos bairros rebeldes, no leste da cidade, onde vivem mais de 250.000 pessoas.
A Casa Branca informou sobre a "profunda preocupação" do presidente Barack Obama sobre o fato de que "o regime sírio continua bloqueando" o transporte de ajuda.
Sem garantias de segurança suficientes, os caminhões da ONU, repletos de alimentos e medicamentos, continuam bloqueados em uma zona entre a fronteira turca e síria.
"Não houve progressos, mas a ONU está pronta para agir enquanto tiver aval", disse à AFP um porta-voz do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários.
Um correspondente da AFP em Aleppo indicou neste sábado que a cidade estava tranquila após o disparo de alguns foguetes durante a noite.