Investigadores norte-americanos apuram suspeitas de que os cartolas do futebol foram beneficiados por contratos obtidos pela Odebrecht - construtora investigada na Operação Lava Jato no Brasil. Tanto o escândalo da Fifa quanto o da empresa brasileira estão sendo analisados pelo Departamento de Justiça nos Estados Unidos. O jornal O Estado de S.Paulo apurou que os investigadores têm cruzado informações, principalmente no que se referem à construção de estádios da Copa em 2014. O resultado do inquérito poderá alimentar o julgamento contra cartolas brasileiros e mesmo dirigentes europeus.
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Desde 2015, dirigentes brasileiros passaram a ser indiciados pela Justiça norte-americana, entre eles Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero, atual presidente da CBF. José Maria Marin, que dirigiu a entidade, é o único que foi extraditado e cumpre prisão domiciliar em Nova York. Del Nero nunca mais deixou o Brasil. Os norte-americanos também investigam outros cartolas, entre eles o ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke.
Ao lado de Teixeira, Valcke teria fechado acordo para tirar a Copa do estádio do Morumbi e abrir caminho para a construção de uma nova arena, erguida pela Odebrecht em Itaquera - a Arena Corinthians. O francês foi banido do futebol por suspeitas de corrupção. Em 2006, ele ainda recebeu US$ 100 mil (R$ 343 mil, na cotação de ontem) da CBF para ajudar o Brasil a receber a competição mundial.
No fim de 2015, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos solicitou à Suíça cooperação para investigar contas controladas por Teixeira em bancos do país. Os dados foram enviados aos procuradores norte-americanos.
Ao mesmo tempo, os investigadores passaram a fechar o cerco contra a Odebrecht, em processo paralelo e em cooperação com a Operação Lava Jato, no Brasil. Em 2015, a Polícia Federal apontou para suspeitas de fraude a licitação e superfaturamento de R$ 42,8 milhões na construção da Arena Pernambuco, de responsabilidade da Odebrecht. A suspeita é de que agentes públicos foram corrompidos para favorecer a construtora na licitação internacional para as obras e para viabilizar financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Delações apontaram como o consórcio liderado pela Odebrecht na reforma do Maracanã para a Copa do Mundo serviu para desviar recursos para partidos políticos.
FALTA DE COOPERAÇÃO
Os norte-americanos agora passaram a cruzar os dados entre os dois processos para avaliar indícios de que os dirigentes de futebol indiciados no caso da Fifa também receberam favores da construtora brasileira. Uma das dificuldades, porém, é que o Brasil não tem cooperado com os norte-americanos na investigação sobre os escândalos do futebol.
Isso por causa de uma decisão da Justiça Federal dos Estados Unidos e que está sendo alvo de recursos no STF. O julgamento dos cartolas nos EUA começa apenas no segundo semestre de 2017 e, até la, os procuradores esperam obter confirmações sobre as suspeitas investigadas.
Em e-mail que faz parte do relatório da Polícia Federal (PF), Marcelo Odebrecht cita a Fifa ao se referir aos planos para a construção do estádio do Corinthians e a necessidade de "recursos adicionais" para que a arena pudesse estar dentro dos padrões (da Fifa) para ser escolhida como local de abertura da Copa do Mundo de 2014.
Em seu relatório, a PF explica que Marcelo Odebrecht pede para que chegue "a seu pai (Emílio) a mensagem cujo tema, aparentemente, está voltado para a questão do financiamento de algum estádio". "A necessidade de Marcelo para que seu pai tenha acesso à mensagem em questão se funda no caso de o ‘amigo’ de Emílio ligar para este", disse a PF. O amigo, segundo a investigação, seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.