ESTADOS UNIDOS

Crescem temores pela influência da família Trump no governo

Lei antinepotismo adotada em 1967 proíbe, em princípio, qualquer membro da família direta, ou política, de um presidente de ter um emprego remunerado em agência federal

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Publicado em 19/11/2016 às 9:23
Foto: MANDEL NGAN / AFP
Lei antinepotismo adotada em 1967 proíbe, em princípio, qualquer membro da família direta, ou política, de um presidente de ter um emprego remunerado em agência federal - FOTO: Foto: MANDEL NGAN / AFP
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Ivanka Trump com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o marido Jared Kushner que quer participar das reuniões diárias sobre segurança na Casa Branca: a família de Donald Trump está onipresente, alimentando os temores sobre os conflitos de interesse e a falta de experiência.

As fotos da primeira reunião do magnata nova-iorquino com um líder estrangeiro na quinta-feira (17) provocou uma enxurrada de tuítes de indignados simpatizantes de Hillary Clinton.

Em uma delas, aparece Ivanka, sempre muito elegante, sentada com seu pai e o premiê japonês na Trump Tower, em Nova York. Em outra, Abe e Trump conversam, observados pelo casal Ivanka e Jared.

"Conflito de interesses é um eufemismo", disse Matt Ortega, um executivo da campanha digital de Hillary.

"OMGOMGOMGOMGOMG" por "Oh My God" (Oh meu Deus), reagiu a revista de esquerda Mother Jones.

Citando fontes anônimas, o jornal The New York Times afirmou ontem que Kushner consultou um advogado sobre a possibilidade de entrar para o governo do sogro.

Uma lei antinepotismo adotada em 1967, depois que o ex-presidente John F. Kennedy nomeou seu irmão Bobby como secretário de Justiça, proíbe - em princípio - qualquer membro da família direta, ou política, de um presidente de ter um emprego remunerado em uma agência federal.

A legislação é, porém, mais ambígua no que se refere a cargos de assessores na Casa Branca, de acordo com a imprensa americana.

Depois de ser eleito, Trump deu sinais de que pretende continuar dando à sua família um papel primordial em seu governo.

Durante a campanha, o magnata se apoiou em seus filhos Eric, Donald Jr. e Ivanka, que também são muito envolvidos em seus negócios. Jared foi, por sua vez, um fiel conselheiro.

'Especialistas, primeiro'

A influência exercida pela família Trump não é nova, lembra o professor de Ciência Política Sam Abrams, na Sarah Lawrence College, de Nova York.

De Eleanore Roosevelt a Michelle Obama, passando pelas famílias Kennedy e Bush, as esposas e os filhos desempenham, com frequência, um papel importante na tomada de decisões dos presidentes, embora na maioria dos casos tenha sido um processo informal. A lei antinepotismo nunca impediu que isso acontecesse, afirmou.

Segundo Daniel DiSalvo, especialista do City College de Nova York, o bilionário republicano representa uma combinação inédita "pela natureza de seu negócio".

"Seu nome representa grande parte do valor de seus ativos, como seus prédios e campos de golfe, a importância de sua fortuna e os filhos adultos que meteu em seus negócios", comentou.

"Tudo isso favorece os eventuais conflitos de interesse", afirma DiSalvo, acrescentando que "não serão resolvidos" com a criação de um "blind trust", uma sociedade fiduciária que será administrada por seus filhos, na qual o presidente não terá qualquer poder.

Segundo Abrams, ainda que a influência da família Trump não tenha nada de surpreendente, o empresário comete um erro ao pôr sua família em primeiro plano desde agora, sobretudo, quando ainda não nomeou reconhecidos especialistas isentos de polêmica para seu governo.

"É normal envolver a família, mas quando você vai se reunir com Shinzo Abe, um aliado próximo dos Estados Unidos, é necessário falar primeiro com os especialistas em ver de ir para Jared e lhe perguntar: 'o que você acha?'", alega Abrams.

Na quinta-feira, especialistas citados pelos jornais americanos mostraram sua preocupação com o fato de Trump não ter pedido para ser informado pelo Departamento de Estado antes de seu encontro com Abe.

"Há tanto rancor, tanta frustração" após a eleição, considerou Abrams.

"É uma má liderança, quando se sabe que algo não funciona e que as pessoas estão chateadas (...) Isso não ajuda os americanos a se sentir melhor", sustenta.

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