As últimas evacuações continuavam nesta quinta-feira (22) na área rebelde de Aleppo após a saída de pelo menos 4.000 insurgentes, informou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que espera que as operações de evacuação prossigam até sexta-feira (23).
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Ao mesmo tempo, 31 observadores da ONU chegaram na zona leste de Aleppo para supervisionar a fase final da operação, segundo anunciou nesta quinta um porta-voz das Nações Unidas.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, afirma que a "libertação" de Aleppo não é apenas "uma vitória" para a Síria, mas também para o Irã e a Rússia, que apoiam incondicionalmente seu regime, mergulhado desde 2011 em uma guerra civil que deixou mais de 310.000 mortos.
Fim das evacuações em Aleppo é crucial para o regime sírio
O fim das evacuações é crucial para o regime, que deve anunciar a retomada completa de Aleppo, seu maior sucesso em quase seis anos de guerra devastadora. Mas as operações poderiam durar até sexta-feira, segundo o CICV, que supervisiona o processo.
"As evacuações vão durar todo o dia e toda a noite e, provavelmente, amanhã (sexta-feira). Milhares (de pessoas) ainda precisam ser evacuadas", afirmou a porta-voz do CICV na Síria, Ingy Sidqi, enquanto que "mais de 4.000 combatentes" já deixaram a reduzida área rebelde durante a noite.
"Trinta e um observadores internacionais e nacionais estão na entrada de Ramussa", declarou à AFP Jens Laerke, porta-voz do escritório de coordenação dos assuntos humanitários da ONU (Ocha). Esta medida responde a uma resolução adotada em 19 de dezembro pelo Conselho de Segurança.
Rebeldes em pickups
Munidos com armas de pequeno porte, rebeldes a bordo de vinte pickups, táxis e carros deixaram a cidade na parte da manhã, atravessando o posto de Ramussa, no sul de Aleppo, para chegar na zona rebelde a oeste da cidade, de acordo com um correspondente da AFP.
E no início da tarde, uma dúzia de ônibus também deixaram a área rebelde de Aleppo. Em seu caminho, um homem brandia uma grande bandeira síria.
Lançada em 15 de dezembro, a operação de evacuação sofreu vários atrasos devido à desconfiança entre os beligerantes, problemas logísticos e desde quarta-feira uma nevasca que retardou o trânsito de veículos em direção aos territórios rebeldes.
A neve parou de cair nesta quinta-feira em Aleppo, mas as pessoas aguardam no frio para serem evacuadas.
"É difícil prever quando a operação será concluída porque as estradas estão cobertas de neve", indicou à AFP um membro o grupo rebelde Ahrar al-Sham, Ahmad Qurra Ali.
De acordo com um novo relatório do CICV, cerca de 34.000 pessoas foram retiradas desde 15 de dezembro do enclave rebelde de Aleppo, cidade devastada por sucessivas ofensivas do regime e mais de quatro anos combates, mas especialmente pelos bombardeios de exército sírio e de seu aliado russo nos últimos meses.
O regime lançou a sua mais recente ofensiva terrestre e aérea em 15 de novembro, despejando um dilúvio de fogo sobre os bairros rebeldes, onde dezenas de milhares de residentes eram submetidas a um cerco sufocante desde julho.
Após esta operação, um acordo promovido pela Rússia, Irã, e Turquia, que apoia a rebelião, permitiu a evacuação de civis e rebeldes, encurralados em um pequeno reduto.
'Ingerência flagrante'
Nenhum número oficial foi fornecido sobre o número de pessoas evacuadas e transferidas na zona rebelde. Da mesma forma, não há estimativa precisa do número de pessoas que ainda permanecem no bolsão rebelde.
Simultaneamente, as evacuações das localidades xiitas de Fua e Kafraya, sitiadas pelos insurgentes na província vizinha de Idleb, continuava nesta quinta-feira, tal como previsto no acordo sobre Aleppo.
No total, cerca de 1.000 pessoas foram retiradas dessas áreas, enquanto centenas ainda estão à espera de deixar a localidade, de acordo com o CICV.
Enquanto muitas atrocidades foram cometidas durante a guerra na Síria, a Assembleia Geral da ONU aprovou a criação de um grupo de trabalho para preparar dossiês sobre crimes de guerra neste país, o primeiro passo para levar à justiça os responsáveis ??por estes crimes.
O embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, descreveu a iniciativa como um "ingerência flagrante nos assuntos" da Síria.
Em Moscou, o ministro da Defesa Sergei Shoigu anunciou que os bombardeios da aviação russa na Síria "liquidaram" 35.000 combatentes desde o início de sua intervenção em setembro de 2015.
O apoio militar russo e iraniano foi crucial para reverter a situação em favor do regime sírio.
Aleppo "é uma derrota para todos os países hostis ao povo sírio e que usaram o terrorismo para satisfazer os seus interesses", declarou Assad nesta quinta-feira ao receber o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores.
Desencadeada em março de 2011 pela repressão das manifestações pacíficas pró-democracia, o conflito sírio tornou-se mais complexo ao longo dos anos, envolvendo múltiplos atores apoiados por várias potências regionais e internacionais.