Em meio ao caos causado pelo apagão que atinge a Venezuela há três dias, o líder opositor Juan Guaidó anunciou neste domingo (10) que pedirá ao Parlamento que decrete "estado de emergência" nacional, enquanto o presidente Nicolás Maduro prorrogou a suspensão das aulas e da jornada de trabalho.
"Convocamos para amanhã uma sessão extraordinária de emergência do Parlamento para tomar ações imediatas em relação à ajuda humanitária necessária", disse Guaidó, presidente do Congresso, dominado pela oposição, durante entrevista coletiva.
Ele afirmou que também convocará amanhã "ações nas ruas" para pressionar pela saída do poder de Nicolás Maduro, cujo governo responsabiliza pelo apagão.
No podemos voltear la cara ante la tragedia que vive nuestro país. He convocado para mañana a una sesión extraordinaria de la @AsambleaVE, donde solicitaré, en mi condición de Presidente (E), decretar Estado de Emergencia Nacional, con base en el artículo 338 de nuestra CRBV.
— Juan Guaidó (@jguaido) 10 de março de 2019
"Deve-se atender à emergência, que entre a ajuda humanitária. Temos que responder imediatamente a esta catástrofe, não podemos virar a cara", manifestou o chefe do Legislativo.
Mais tarde, no Twitter, Guaidó anunciou "consultas" com dois dos governos que o reconhecem, em busca de apoio técnico. "Conversamos com Alemanha e Japão, e estão dispostos a nos acompanhar na solução da crise", publicou.
Sem informar quando a energia será restabelecida, o governo venezuelano prorrogou até amanhã a suspensão das aulas e da jornada de trabalho, e pediu tranquilidade.
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Terceiro dia
Sem luz, sem água e incomunicáveis, os venezuelanos vivem horas de angústia. Os hospitais que têm geradores os reservam para emergências. Classificando a situação de "tragédia sem precedentes", Guaidó afirmou que 15 pessoas morreram em centros médicos e 15 mil pacientes renais estão em risco. O governo nega as mortes.
"Tem sido terrível. Tudo escuro. Funcionam apenas algumas áreas com uma unidade elétrica que levaram, porque a do hospital não funcionou", disse à AFP Sol dos Santos, de 22 anos, cuja filha se encontra internada em Caracas.
O país está praticamente paralisado, com estabelecimentos comerciais fechados e pouco transporte, sem atividade escolar e trabalho. Na população, a preocupação aumenta, porque a comida começa a estragar, e a água vai acabando.
"Estou muito nervosa, porque esta situação não se resolve, a pouca comida que temos na geladeira vai estragar. Até quando vamos suportar isso?", desabafa Francisca Rojas, uma aposentada de 62 anos que vive no leste de Caracas.
A crise energética se transformou em uma nova queda de braço entre o presidente Nicolás Maduro e Juan Guaidó.
Maduro denunciou "ataques eletromagnéticos" ao "cérebro" da hidrelétrica de Guri, situada no estado Bolívar (sul), a maior da Venezuela e a segunda da América Latina, depois de Itaipu (Brasil-Paraguai).
Guaidó responsabiliza o governo por falta de investimentos e de manutenção, assim como pela corrupção, diante das recorrentes interrupções do fornecimento de energia, principalmente no interior do país.
O serviço foi restabelecido durante apenas algumas horas nesses três dias. Segundo a empresa elétrica Corpoelec, 40% de Caracas tem luz. O corte afeta a capital e 22 dos 23 estados do país.
Maduro disse ontem, diante de uma multidão de apoiadores reunida em Caracas, que se havia avançado na reconexão de quase 70% do país, mas que outro ataque "derrubou tudo que tinha sido feito".
"A estratégia macabra de nos levar a um confronto irá fracassar. Continuamos trabalhando pela recuperação total do sistema elétrico nacional", publicou Maduro neste domingo no Twitter.
O ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, afirmou hoje que as Forças Armadas realizam uma "patrulha ativa": "Conseguimos alguns níveis de estabilização. Ainda resta muito a fazer. O ataque foi certeiro, muito preciso."