Comunidades de imigrantes nos EUA viveram neste domingo, 14, um dia de tensão, à espera da megaoperação de prisão e deportação em massa prometida pelo presidente Donald Trump. Em entrevista à CNN, Ken Cuccinelli, diretor de Serviços de Imigração e Cidadania, confirmou que as detenções haviam começado, embora ativistas diziam que a situação era normal na maior parte das grandes cidades americanas.
Na semana passada, Trump havia anunciado que prisões em massa começariam no fim de semana. O objetivo da Agência de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) seria deportar 2 mil imigrantes em pelo menos dez cidades: Atlanta, Baltimore, Chicago, Denver, Houston, Los Angeles, Miami, Nova York, São Francisco e Nova Orleans - em razão da passagem do furacão Barry, no entanto, as operações nesta cidade teriam sido canceladas.
No domingo, a festa da comunidade latina de Baltimore, a pouco mais de uma hora de Washington, estava marcada para começar ao meio-dia no Patterson Park. Mas pouca gente apareceu. "As pessoas estão com medo", afirmou um dos organizadores, Pedro Palomino, dono de duas publicações para os latinos na região.
O foco das prisões são famílias recém-chegadas aos EUA que já tenham processo de deportação em curso. No entanto, autoridades americanas anunciaram que poderão fazer apreensões "laterais", além do foco inicialmente previsto pela ICE.
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Com o anúncio de que as detenções começariam neste domingo, o pânico se espalhou entre as famílias de imigrantes. Na sexta-feira e no sábado, agentes da ICE circularam em estações de metrô de Nova York e em bairros de maior concentração de imigrantes. No sábado, segundo relatos de moradores de Baltimore, agentes chegaram a bater na porta de imigrantes, mas não encontraram ninguém.
No início da manhã do domingo, o principal bairro de imigrantes de Baltimore estava vazio. Quando perceberam que não havia sinal de detenções, as pessoas começaram a sair de casa. Às 13 horas, uma hora depois do previsto, os organizadores do encontro latino resolveram iniciar as festividades. "Estamos aqui para mostrar quem realmente somos", anunciaram no palco.
María del Cármen assistia à festa no gramado. Há menos de três meses, chegou aos EUA vinda do Equador e ainda não conhece muitos bairros de Baltimore. Os três filhos já estão na escola, mas sofrem para aprender inglês. Ela se emociona ao lembrar da travessia recente, na fronteira do México, e fala pouco sobre a chegada.
Abraçada à filha mais nova, de 6 anos, ela conta que encarou 15 dias de viagem em busca de uma vida melhor. "Fugimos da violência, das drogas e não tínhamos trabalho no Equador", afirma. A opção da família foi se apresentar às autoridades de imigração na entrada e formalizar o pedido de asilo - opção considerada mais segura.
Sentada no mesmo gramado, outra María - que pede para não divulgar o sobrenome - está em situação mais difícil. Vinda do Equador com ajuda de coiotes, há quase 20 anos, vive sem documentos. "Fugimos da pobreza e agora querem nos enviar para ela de volta", lamenta. Dois dos cinco filhos nasceram nos EUA e todos os quatro netos são americanos.
Ativistas têm orientado que imigrantes não abram a porta para agentes da ICE, caso eles não apresentem autorização judicial. No domingo, um jornal distribuído em padarias e restaurantes brasileiros de Baltimore, o Brazilian Times, trazia na capa o tema da deportação. O Itamaraty monitora a situação - a área consular já mapeou que há brasileiros que podem ser afetados pela medida, mas ainda não se sabe quantos seriam.
México
Marcelo Ebrard, chanceler do México, disse no domingo que o país está se preparando para receber mais de 1,8 mil imigrantes ilegais mexicanos que seriam deportados dos EUA nos próximos dias. Na sexta-feira, autoridades mexicanas deportaram 364 ilegais para Honduras, em uma tentativa de reduzir as chegadas de refugiados da América Central.
No domingo, o governo da Guatemala cancelou a reunião que o presidente Jimmy Morales teria nesta segunda-feira, 15, com Donald Trump. Os dois se encontrariam para discutir temas ligados a imigração e segurança. Morales, no entanto, vem sendo criticado por ter concordado em receber imigrantes deportados pelos EUA. Diante da oposição interna, o presidente guatemalteco voltou atrás e disse que não pretende assinar nenhum acordo com o governo americano.