CLIMA TENSO

Incêndios na Amazônia tumultuam relações entre Brasil e França

Bolsonaro e Macron estão com uma relação bastante estremecida diante dos últimos acontecimentos na Amazônia

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Publicado em 27/08/2019 às 19:06
Foto: Victor Moriyama / Greenpeace / AFP
Bolsonaro e Macron estão com uma relação bastante estremecida diante dos últimos acontecimentos na Amazônia - FOTO: Foto: Victor Moriyama / Greenpeace / AFP
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O presidente Jair Bolsonaro impôs, como condição, nesta terça-feira (27), para a aceitação da ajuda do G7 para combater incêndios na Floresta Amazônica, o presidente francês, Emmanuel Macron, retirar seus ''insultos'' pelas declarações questionando a capacidade do Brasil de preservar esta área essencial para todo o planeta.

As posturas de Bolsonaro em matéria ambiental, que já levaram à paralisação do Fundo Amazônia financiado por Noruega e Alemanha, preocupam os governadores da região, que pediram ao presidente que aceite a ajuda para combater o fogo que se expande há semanas na região. 

''Primeiramente, o senhor Macron deve retirar os insultos que fez à minha pessoa. Primeiro me chamou de mentiroso. E depois, informações que eu tive, de que a nossa soberania está em aberto na Amazônia'', afirmou o presidente brasileiro a jornalistas que o entrevistavam sobre o anúncio de seu principal ministro de recusar a ajuda do G7 de 20 milhões de dólares para combater os incêndios amazônicos.

A rejeição à ajuda do G7 preocupou os nove governadores dos estados amazônicos do Brasil, que o pressionaram em uma reunião em Brasília para flexibilizar sua posição.

Wilson Lima, governador do estado Amazonas, ressaltou que o apoio internacional é bem-vindo. Helder Barbalho, do Pará, destacou a importância do Fundo Amazônia. Flávio Dino, governador do Maranhão, disse que os extremismos não são adequados para enfrentar uma temática complexa como a do meio ambiente.

A tensão com a França contrasta com os elogios que Bolsonaro recebeu de seu aliado dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta terça (27).

''Conheço bem o presidente Jair Bolsonaro por nossa relação com o Brasil. Ele está trabalhando duro nos incêndios na Amazônia e, em todos os aspectos, está fazendo um ótimo trabalho para o povo brasileiro'', tuitou. ''Ele e seu país têm o apoio total e completo dos Estados Unidos!'', disse ainda.

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Na mesma rede social, Bolsonaro agradeceu a Trump.

''Estamos tendo grande sucesso no combate aos incêndios. O Brasil é e continuará sendo exemplo para o mundo em desenvolvimento sustentável'', afirmou Bolsonaro.

''A campanha de fake news fabricada contra nossa soberania não prosperará'', acrescentou.

Na Bolívia, onde o fogo também afeta uma parte de seu território na Amazônia, o presidente Evo Morales agradeceu a ajuda do G7, mas a definiu como uma quantia ''muito pequena''.

Questão de soberania

Macron questionou na segunda-feira, no final da cúpula do G7 na França, a possibilidade de conferir um ''estatuto internacional'' à Floresta Amazônica, caso ''um Estado soberano adotasse medidas concretas claramente contrárias ao interesse de todo o planeta''.

A presidência francesa afirmou ainda que Bolsonaro ''mentiu'' quando assegurou que iria respeitar os compromissos de combater as mudanças climáticas.

O ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni sugeriu a Macron na segunda-feira que cuidasse de ''sua casa e suas colônias'', esta última em referência aos territórios franceses no exterior, que incluem o Guiana Francesa, na fronteira com o Brasil, exatamente no norte da Amazônia.

A tensão tomou contornos pessoais quando Bolsonaro fez um comentário no fim de semana no Facebook que continha uma mensagem ofensiva em relação à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. O presidente francês classificou os comentários de ''extraordinariamente desrespeitosos''.

Bolsonaro, ao ser indagado pelos jornalistas na terça-feira (27), negou qualquer má intenção.

''Alguém que botou a foto lá, e eu falei para ele não falar besteira'', afirmou o presidente brasileiro, que, no entanto, encerrou abruptamente a entrevista quando os jornalistas pediram mais explicações.

A situação levou o escritor Paulo Coelho a pedir desculpas em francês, em um vídeo postado no Twitter, pelo que chamou de ''histeria de Bolsonaro em relação à França, ao presidente da França e a sua esposa''.

Enquanto a Amazônia está queimando, eles não têm nenhum argumento e apenas insultam, negam, dizem qualquer coisa para evitar assumir (sua) responsabilidade

, acrescentou o escritor em referência às autoridades brasileiras.

 Mais incêndios

Os dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisa (Inpe) contabilizam 82.285 focos de incêndio de janeiro até segunda-feira, 26 de agosto, 51,9% do total na Floresta Amazônica.

O número total marca um aumento de 1.650 focos de incêndio em comparação com o dia anterior e representa um aumento de 80% em relação ao mesmo período de 2018. 

Mas o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse na segunda (26) que a situação ''está sob controle'', observando que o destacamento de mais de 2.500 soldados, centenas de veículos e 15 aeronaves, incluindo dois aviões-tanque Hércules C-130, foram mobilizados para controlar as chamas em nove estados através dos quais a Floresta Amazônica se estende.

Porto Velho, capital de Rondônia, uma das cidade mais afetadas, acordou nesta terça-feira (27) com o céu mais limpo graças a uma chuva de cerca de 10 minutos na tarde anterior. 

O aeroporto, que na segunda-feira ficou fechado por cerca de duas horas por causa da fumaça, funcionou normalmente.

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