VIOLÊNCIA

Mais de 40 mortos em violentas manifestações no Iraque

As manifestações são contra o governo de Bagdá

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Publicado em 25/10/2019 às 20:09
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As manifestações são contra o governo de Bagdá - FOTO: Foto: AFP
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As manifestações contra o governo foram retomadas no Iraque com uma violência que deixou mais de 40 mortos nesta sexta-feira em Bagdá e no sul do país, onde a população protestou contra as instituições públicas, os partidos políticos e as facções armadas. No começo de outubro, mais de 150 pessoas morreram em uma semana, quase todas manifestantes que pediam a "queda do regime". O movimento foi interrompido, mas na noite de quinta-feira renasceu na emblemática praça Tahrir de Bagdá. 

Nesta sexta-feira, os manifestantes atacaram duas sedes de governo do sul do país, incendiando-as, e dezenas de sedes de partidos políticos e de facções armadas. Mais da metade dos 42 manifestantes mortos foram vítimas de incêndios ou tiros em ataques contra grupos da poderosa coalizão de paramilitares Forças de Mobilização Popular, principal aliado do governo do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi. 

Incêndios e ataques

Durante o dia, o grande aiatolá Ali Sistani, a maior autoridade religiosa xiita do Iraque, pediu às forças de segurança e aos manifestantes "moderação" para evitar o "caos". Na noite dessa sexta-feira, foram registrados incêndios e ataques em várias províncias do sul do país, onde se decretaram toques de recolher. 

Em Bagdá, as forças de segurança lançaram bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra os manifestantes da praça Tahrir que tentaram entrar na Zona Verde, onde fica a sede o governo iraquiano e a embaixada dos Estados Unidos. Centenas de pessoas ficaram feridas. 

Ao final do dia, milhares de manifestantes se concentravam na praça Tahrir. Na ponte Al Jumhuriya, perto da praça e que leva à Zona Verde, aconteceram alguns confrontos. Três manifestantes morreram na cidade petrolífera de Basra, no extremo sul do país. O Parlamento anunciou que se reunirá neste sábado para se ocupar das demandas dos manifestantes e avaliar as reformas sociais reivindicadas por Abdel Mahdi. 

Os manifestantes pedem mudanças radicais: uma nova Constituição e uma classe política renovada no 12º país mais corrupto do mundo. O grande aiatolá Sistani pediu, mais uma vez, reformas e que se enfrente a corrupção, uma das principais reivindicações dos manifestantes. No entanto, não criticou - como fez no caso de outros primeiros-ministros - o premier Adel Abdel Mahdi. Sistani parece manter sua confiança em Abdel Mahdi, há um ano na frente do governo. 

Um jovem manifestante com uma bandeira iraquiana declarou indignado que "são todos ladrões, mentem e prometem empregos e quando nos manifestamos, nos jogam gás lacrimogêneo". Este movimento espontâneo é o primeiro desse tipo no Iraque, um país rico em petróleo que sofre de escassez crônica de eletricidade e água potável, onde 20% da população vive abaixo da linha da pobreza.

"Minha parte de petróleo"

"Quero minha parte de petróleo", disse um manifestante na praça Tahrir, enquanto 20% da população vive abaixo da pobreza, no país de maioria xiita. As manifestações anteriores, geradas espontaneamente em 1 de outubro e que duraram até 6 de outubro, foram marcadas pela morte de 157 pessoas, em sua grande maioria manifestantes de Bagdá, segundo o balanço oficial.

A ONU denunciou "violações substanciais" dos Direitos Humanos por parte das forças de segurança. O turbulento líder xiita Moqtada Sadr ameaçou enviar seus combatentes para "proteger" os manifestantes, o que despertou temores de uma eventual escalada da violência.

Como no começo de outubro, as convocações de protestos afetam a maioria das províncias do sul, xiitas e tribais, e não ao norte e no oeste, de maioria sunita e que há dois anos expulsou o grupo jihadista Estado Islâmico (EI). O Curdistão autônomo (norte) também se mantém à margem.

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