Corrida eleitoral

Há um ano das eleições, Trump encara obstáculos nos EUA

Presidente norte-americano enfrenta impeachment

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Publicado em 03/11/2019 às 9:01
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Presidente norte-americano enfrenta impeachment - FOTO: AFP
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Dizem que as eleições podem ser comparadas com uma maratona, mas quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, buscar seu segundo mandato daqui a exatamente 12 meses, parecerá que ele terá cumprido uma prova muito mais desgastante, dado os vários obstáculos que terá pela frente, como a crise comercial com a China, a paralisia de um Congresso dividido e até um processo de impeachment – que pode inclusive mudar a corrida eleitoral. Daqui a um ano, quando os americanos forem às urnas, no dia 3 de novembro de 2020, a expectativa é por uma das eleições mais acirradas da história do país.

Os democratas ainda estão longe de escolher o oponente de Trump. Os candidatos, de diversidade e quantidade recorde, incluem dois afro-americanos, meia dúzia de mulheres, um homem abertamente gay e dois candidatos que tentam fazer os Estados Unidos penderem para a esquerda. O ex-vice-presidente de Obama, Joe Biden aparece como favorito para disputar o pleito. Sua principal rival é a senadora por Massachusetts, Elizabeth Warren. Bernie Sanders, Pete Buttigieg e Kamala Harris são outros pré-candidatos com chances reais.

Apesar da indefinição dos adversários, Trump sabe que deve ter problemas seja qual for o seu oponente. Pesquisas mostram que o presidente está perdendo para todos os pré-candidatos democratas com chance de indicação. Há algum tempo, a taxa de aprovação do presidente se encontra estagnada em torno dos 40%.

Do outro lado, os republicanos se apegam ao fato que este mesmo presidente impopular surpreendeu muitos especialistas quando derrotou Hillary Clinton em 2016. E as pesquisas realizadas em outubro pela Moody’s Analytics mostram que ele pode repetir a virada, mais uma vez perdendo no voto popular, mas ganhando facilmente o importante voto do colégio eleitoral, com foco em redutos estrategicamente posicionados.

Para não ser o quarto presidente depois da Segunda Guerra Mundial a ter somente um mandato na história dos Estados Unidos, Trump deve apostar novamente na polarização do eleitorado. A estratégia é deixar pouca margem para avanços dos democratas.
“A eleição de Trump reflete um processo de polarização intensificada a partir do movimento Tea Party, organizado no final dos anos 2000. O mais provável adversário de Trump, Joe Biden, tende a um comportamento menos intenso de polarização comparativamente a Bernie Sanders”, disse o professor de pós-graduação da Unicap, Juliano Domingues. “Se Biden se confirmar como candidato do Partido Democrata, caminha-se para um cenário semelhante a 2016, com um republicano de discurso mais radical numa disputa com um democrata mais ponderado. Se o contexto de polarização se repetir, ele tenderia a incentivar um engajamento maior do eleitor republicano”, complementou.

INFLUÊNCIA EXTERNA E INTERNA

O destino de Trump tem importância para o mundo todo. A lista é grande de questões que podem sofrer impacto com as eleições americanas: disputas comerciais com a China e com a União Europeia, o futuro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o envolvimento dos Estados Unidos no Oriente Médio e no Afeganistão, o programa nuclear do Irã, o confronto nuclear com a Coreia do Norte, o acordo climático de Paris. Muitos desses assuntos podem inclusive serem decisivos para o pleito, a depender das decisões do mandatário norte-americano.

Internamente, a principal questão a ser observada será o julgamento político do impeachment. Conforme o avanço do processo, que atualmente está na Câmara dos Representantes, Trump pode perder ou ganhar pontos na corrida eleitoral. Atualmente, é pouco provável que ele sofra impedimento – o Senado republicano deve barrar – e os democratas sabem disso. Assim, os adversários esperam alongar ao máximo o assunto para provocar desgastes suficientes que influenciem nas eleições. Do lado de Trump, a estratégia é apontar o impeachment como “discurso de mau perdedor” para conseguir mais votos.

DEMOCRATAS TAMBÉM COM DÚVIDAS

Se no lado de Donald Trump, as interrogações sobre sua reeleição são grandes dado os obstáculos, na vertente democrata as dúvidas não são menores. A indefinição do candidato do partido é o ponto chave a ser avaliado. A questão é se os democratas irão apostar em alguém menos dinâmico, mas seguro, como Biden, ou se arriscarão alguém mais alinhado com a esquerda, caso de Elizabeth Warren.

Contando com os dois líderes, há quase duas dúzias de candidatos de diferentes setores, de proeminentes estadistas a novatos na política, na esperança de concorrer à Casa Branca em 2020. Por isso, os debates acalorados tentam reduzir o campo e dar informações aos eleitores sobre propostas e pensamentos sobre temas que vão da assistência médica a mudanças climáticas, passando pelas leis de controle de armas, imigração e política externa.

“Eu sei que sou o favorito”, declarou Biden à rede da CBS em seu programa “60 Minutes” no domingo anterior (27), alegando que a maioria das pesquisas aponta sua vantagem. Ele lembrou, porém, que “isso é uma maratona”.

Surgiram dúvidas sobre se Biden, que serviu no Senado por 36 anos, pode atingir o objetivo final. Em três semanas, completará 77 anos e, durante um discurso recente na Pensilvânia, suas lembranças nostálgicas da infância sugeriram um desejo por dias passados, em vez de olhar para o futuro. Dados do terceiro trimestre mostram Biden atrás dos adversários Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Pete Buttigieg.

Ciente de que tem boas chances, Warren avança contra Biden e tenta conquistar um leque maior do eleitorado. “Tenho um plano para isto”, diz ela indicando que pensou em uma ampla gama de propostas para melhorar a economia, expandir os direitos da comunidade LGBTQ e reformar a Justiça penal.

Com o aumento de sua popularidade, também virou um alvo dos outros candidatos. Em um debate recente, os adversários criticaram a falta de clareza sobre como pagar por sua proposta de sistema de saúde universal.

Entre os que correm por fora, Sanders, de 78 anos, o candidato mais velho e que se recupera de um ataque cardíaco sofrido no início de outubro, é o que mais está perto dos dois líderes. Ele é o mais liberal na campanha e defende uma revolução política para reabilitar a classe trabalhadora dos Estados Unidos. Já a senadora Kamala Harris ganhou destaque depois de um debate de junho, no qual enfrentou Biden, mas caiu para o quinto lugar nas pesquisas. Buttigieg, prefeito de South Bend (Indiana) de 37 anos, ganhou impulso com um desempenho convincente nos últimos meses. Seu realismo centrista o ajudou a ganhar força.

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