Foram quase três meses de intimações, depoimentos, relatórios e transcrições que prenderam a atenção dos americanos. Nesta quarta-feira (18) o processo de impeachment de Donald Trump vive seu último capítulo na Câmara dos Deputados. Os democratas, que têm maioria, pretendem votar no plenário as duas acusações contra o presidente, por abuso de poder e obstrução do Congresso.
Nessa terça-feira (17) vários deputados democratas moderados - eleitos em distritos conservadores em 2018 - anunciaram apoio ao impeachment de Trump. Eles vinham sofrendo pressão da liderança do partido, mas temiam a reação de seus eleitores. A Câmara é composta por 435 deputados, mas 4 cadeiras estão vazias - 3 por renúncia e uma em razão da morte do democrata Elijah Cummings.
Dos 431 votos, portanto, os democratas precisam de 216 para aprovar o impeachment. Dos 233 deputados do partido, apenas 2 disseram publicamente ser contra a destituição de Trump - um deles, o deputado Jeff Van Drew, de New Jersey, anunciou até mesmo que mudaria de partido logo após a votação.
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"O que o presidente fez foi errado", disse Ben McAdams, deputado democrata do Estado de Utah. "Não posso virar a cara e permitir que futuros presidentes, republicanos ou democratas, façam o mesmo."
Elissa Slotkin, deputada democrata de Michigan, chegou a ser ameaçada por eleitores depois de declarar que votaria a favor do impeachment de Trump. "Foi uma decisão difícil", disse. "Sabia que receberia críticas, mas tenho certeza que estou fazendo a coisa certa. Espero que os eleitores entendam."
Apoio
Chrissy Houlahan, deputada democrata moderada da Pensilvânia, postou um vídeo na noite de segunda-feira em apoio ao impeachment. Elaine Luria, de Virginia, e Mikie Sherrill, de New Jersey, declararam na terça apoio à destituição de Trump.
Uma vez aprovado na Câmara, como esperado, o processo segue para avaliação do Senado, onde o resultado também é previsível, mas em favor do presidente. Os republicanos têm maioria no Senado - de 100 senadores, 53 são do partido de Trump. A condenação, no entanto, segue uma regra diferente. O presidente seria destituído apenas com dois terços dos votos. Portanto, 20 senadores republicanos teriam de mudar de lado, o que é considerado improvável.
Em setembro, os democratas anunciaram a abertura de um processo de impeachment contra Trump. A justificativa foi a pressão feita sobre o governo da Ucrânia para que lançasse uma investigação sobre o democrata Joe Biden, que lidera as pesquisas para disputar a eleição presidencial de 2020 pelos democratas. Trump teria segurado o envio de US$ 391 milhões em ajuda militar aos ucranianos e, em troca do anúncio da investigação, ele receberia o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, na Casa Branca.
Durante a investigação, os democratas concluíram também que Trump tentou sabotar o processo, ordenando que as autoridades de seu governo não testemunhassem e não entregassem os documentos pedidos pela Câmara dos Deputados. O presidente alega que não fez nada de errado e reclama que a investigação foi uma "caça às bruxas".
Senado
Nesta terça, o presidente do Senado, o republicano Mitch McConnell, rejeitou a proposta dos democratas de convocar novas testemunhas durante a nova fase do processo de impeachment. Durante o tempo em que o inquérito tramitou na Câmara, os deputados intimaram assessores e ex-secretários de Trump, como o chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney, o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, o assessor de Mulvaney, Robert Blair, e o secretário do Orçamento Michael Duffey.
Um dos poucos que se ofereceram foi Bolton, demitido por Trump em setembro. Ele se colocou à disposição, desde que a Justiça desse sinal verde para seu depoimento. Os democratas, no entanto, tinham pressa para concluir o impeachment e não esperaram a decisão judicial - eles temem que o processo se arraste e afete as primárias do partido, que começam em fevereiro.
Se for derrotado na Câmara dos Deputados, Trump se tornará o terceiro presidente dos EUA a sofrer um processo de impeachment. Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998, também foram condenados pelos deputados, mas absolvidos no Senado. Em 1974, Richard Nixon renunciou antes de o processo ser concluído. Até hoje, nenhum presidente americano foi destituído pelo Congresso.