Eduardo Campos

Com morte de Eduardo Campos, sucessão presidencial é imprevisível

Destino da campanha passa a depender de uma eventual substituição da candidatura do político pernambucano

Giovanna Torreão
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Giovanna Torreão
Publicado em 14/08/2014 às 11:07
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Destino da campanha passa a depender de uma eventual substituição da candidatura do político pernambucano - FOTO: Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
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Uma sucessão presidencial imprevisível, agora marcada pela perplexidade e por uma tragédia sem comparação possível no passado da República brasileira. Para pesquisadores que acompanham a política e a história do Brasil, esse é o cenário em que a morte do candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos lança a política do País.

O destino da campanha passa a depender de uma eventual substituição da candidatura do político pernambucano por Marina Silva, admitem. Mas, mesmo esse cenário não é certo, reconhecem. "Equivalente a isso, só (a morte de) Tancredo (Neves, presidente eleito indiretamente em 1985, que, internado antes da posse, morreu sem assumir o mandato)", afirmou a historiadora Maria Celina D'Araújo. 

"Porque já houve outros casos, como (as mortes de) Ulysses (Guimarães, liderança do PMDB que desapareceu em queda de helicóptero no mar, em 1992) e Castelo Branco (ex-presidente militar nos anos 60, durante a ditadura, morto em acidente aéreo em 1967). Mas que tenha tido impacto tão grande, só Tancredo." 

A historiadora destacou que Campos era um candidato que poderia "fazer a diferença" no processo sucessório, viabilizando um 2.º turno. "Era um fiel da balança importantíssimo. Agora é difícil avaliar. O partido vai ter de discutir. Não sei se o PSB terá alguém para substituir."

'Marasmo'

O cientista político Luiz Werneck Vianna disse não se recordar de episódio semelhante na República. "A eleição já está um marasmo danado, um desencanto generalizado", disse. "Sem uma candidatura influente no Nordeste, a campanha fica ainda mais desinteressante." Para Vianna, o processo eleitoral já precisava "imperativamente, urgentemente", de algo para movimentá-lo mesmo antes da morte de Campos.

"Só duas candidaturas competitivas (Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB) não satisfazem." Vianna não acha que eventual entrada de Marina, embora importante, vá "eletrizar a campanha". Mas, avalia, se houver outra candidatura pelo PSB, as consequências poderão ser piores.

"Um fantasma ronda a eleição, o desinteresse da população. A impressão que tenho é de que doses cavalares de Dilma vão torná-la ainda mais desinteressada." O pesquisador disse que Campos era "um candidato que sabia conciliar interesses". "Não é o caso de Marina. Se ela se tornar candidata, para ter um bom desempenho vai ter de limar muitas arestas, não só com o agronegócio", disse. "Diante do cenário, só poderes mediúnicos podem garantir previsibilidade."

O historiador José Murilo de Carvalho lembrou outros políticos cujas mortes tiveram impacto na história. Citou os presidentes Afonso Pena, na República Velha, Getúlio Vargas, que se suicidou em 1954, o marechal Costa e Silva, vítima de derrame cerebral em 1969, e Tancredo Neves. "A morte de Tancredo foi a mais sofrida, a de Getúlio foi a mais impactante."

"A de Tancredo não afetou a abertura política, mas os seus rumos; a de Afonso Pena mexeu com a sucessão." Disse, porém, não se recordar da morte de candidato presidencial em campanha. Carvalho considerou difícil prever o que acontecerá.

"Em que isso afeta a reeleição de Dilma?", questionou. "Poderiam dizer que polariza (entre Dilma e Aécio). Mas tem Marina Silva... Se ela se lança, a oposição se mantém dividida. Mas talvez favoreça o 2.º turno. É possível que tenha mais votos que Eduardo. Se ela não se lançar, não sei." Aécio precisará convencer a oposição a se unir em torno dele, opinou. A polarização Dilma-Aécio "naturalmente favorece Dilma".

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