O governador da Bahia e futuro ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT), defendeu que a revisão histórica da ditadura militar no Brasil deve ser feita em "movimentos suaves" e que "qualquer precipitação não contribui" para o processo.
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A declaração foi dada nesta segunda-feira (29), em Salvador, durante a solenidade de entrega do relatório parcial da Comissão Estadual da Verdade da Bahia.
No documento, os sete integrantes da comissão defendem a revisão da Lei da Anistia e a punição de pessoas envolvidas em crimes contra os direitos humanos, como a tortura.
O novo ministro, que assume o cargo na próxima quinta-feira (1), evitou se posicionar sobre a revisão da lei, afirmando que esta é uma questão que não está no âmbito do Ministério da Defesa.
Numa metáfora, o governador afirmou que a "água suja" da ditadura pode ser transformada de duas maneiras: jogando a água fora ou ir colocando água limpa aos poucos até que a água suja vá clareando.
"Todo mundo que me conhece sabe que eu sou pela segunda forma", disse o governador da Bahia, reconhecendo ser esta uma maneira mais "sofrida" para os parentes de vítimas da ditadura.
Segundo Wagner, a presidente Dilma Rousseff (PT) não tem "nenhum medo e nenhuma dúvida do que deve ser feito", mas que é preciso ter "cuidado e parcimônia" na condução deste processo.
Em tom conciliador, o governador baiano ainda saiu em defesa das Forças Armadas e alegou não ser positivo responsabilizar a instituição pelas violações aos direitos humanos: "Não dá para generalizar, é preciso falar em pessoas".
E defende que os líderes civis da época que apoiaram e se beneficiaram da ditadura também sejam lembrados.
"É sonegador da verdade a gente não endereçar críticas duras a um elite politica, empresarial e jornalística que foi braço consolidador da ditadura e que se escondia atrás de quem tinha fuzil (os militares)", afirmou.
PROJETOS - O novo ministro Jaques Wagner afirmou que pretende dar continuidade ao trabalho do atual ministro Celso Amorim e focar a atuação nas principais áreas de trabalho do ministério: cibernética, aeroespacial e nuclear.
"Considero um ministério estratégico. Infelizmente, muita gente, até mesmo alguns aliados, não tem a dimensão exata do que dignifica a Defesa", afirmou Wagner, elogiando o trabalho do atual ministro.
Mesmo classificando o ministério como de "primeira linha", admitiu que a pasta dá pouca margem na definição de políticas públicas e que a atuação do ministro é lastreada em documentos que orientam a ação da defesa nacional.
Carioca, Jaques Wagner estudou em colégio militar e foi presidente do diretório acadêmico da faculdade de Engenharia Civil da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro.
Perseguido pela ditadura, abandonou o curso e mudou-se para a Bahia, onde começou vida nova como operário do Polo Industrial de Camaçari e fez carreira política como dirigente sindical.