A Polícia Federal esperou o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró embarcar no avião em Londres para deflagrar buscas nos imóveis do suspeito no Estado do Rio de Janeiro, na tarde de terça-feira (13).
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Ele foi preso nesta quarta (14), ao chegar ao Brasil, por ter feito movimentações financeiras suspeitas após ser denunciado pelo Ministério Público Federal e responder a uma ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro.
Normalmente as ações de busca e apreensão da PF são iniciadas às 6h, horário a partir do qual as medidas desse tipo podem começar, segundo a legislação. Porém, no caso de Cerveró a adoção do horário padrão poderia alertar o denunciado sobre as ações da PF.
O delegado Igor Romário de Paula afirmou que a princípio a informação da polícia era a de que o ex-diretor da Petrobras estava em férias em Londres com a família, mas havia a preocupação de que ele poderia tentar fugir pois tem cidadania espanhola, além da brasileira, e realizou movimentações financeiras suspeitas quando estava no exterior.
Segundo o delegado, as buscas no Rio foram iniciadas a partir das 16h, quando a PF obteve a informação de que Cerveró já estava dentro do avião rumo ao Brasil.
Foram alvo da medida quatro imóveis: dois no bairro de Ipanema e um no bairro de Humaitá, no Rio de Janeiro, e um na cidade de Itaipava (RJ).
A PF apreendeu documentos e mídias que agora passarão por análise da força-tarefa do caso.
PRISÃO
O delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirma que Cerveró fez essas movimentações financeiras para conseguir dinheiro vivo, e que isso poderia indicar duas coisas: ou o ex-diretor planejaria uma fuga, ou tentaria tornar seu patrimônio mais líquido, e dessa forma, o blindaria.
Cerveró chegou a perder R$ 200 mil para conseguir os valores em espécie, diz o delegado.
O Ministério Público Federal, que fez o pedido de prisão preventiva, destacou haver indícios de que "Cerveró continua a praticar crimes, como a ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens (valores e imóveis) para familiares. Além disso, há evidências de que ele buscará frustrar o cumprimento de penalidades futuras".
OUTRO LADO
O advogado do ex-diretor, Edson Ribeiro, disse não haver razão para seu cliente estar detido e que, se a prisão fosse válida, "Graça Foster [presidente da Petrobras] também deveria ter tido a prisão decretada".
A presidente da estatal não é alvo de investigação na Lava Jato.
"Não estou imputando culpa a Graça Foster, mas, se o critério para a prisão de Cerveró foi ter transferido bens para filhos, o critério tem que valer para Graça, que também doou imóveis para os filhos. Ela também era da diretoria da Petrobras na época da compra dos 50% restantes da refinaria de Pasadena, assim como Cerveró era diretor na compra dos 50% iniciais. As decisões são tomadas pela diretoria. Se não vale para Graça, o Ministério Público está prevaricando."
"Não vejo motivos para sua prisão, uma vez que comuniquei à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal sua viagem e seu endereço no exterior", disse Ribeiro.
Ele reafirmou que as operações são normais. "Não há ocultação porque não há laranja. São transferências para parentes, que poderiam ser revertidas caso fosse constatada fraude".
O advogado disse que vai viajar para Curitiba no início da tarde e, quando ler o teor do decreto da prisão, entrará com pedido de habeas corpus.
PASADENA
Cerveró foi diretor da área entre 2003 e 2008, e, como tal, esteve à frente da compra dos 50% iniciais da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006. Segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), o negócio gerou perdas de US$ 792 milhões à estatal.
O ex-diretor assinou o resumo executivo classificado como "falho" pela presidente Dilma Rousseff, quando ela justificou seu voto favorável à compra da refinaria, em março de 2014.
A Petrobras acabou brigando com o grupo belga Astra, de quem era sócio na refinaria. Uma disputa judicial entre ambos arrastou-se entre 2009 e 2012, quando a estatal foi obrigada a comprar os outros 50% no negócio.
Em dezembro passado, o juiz federal Sergio Moro acolheu denúncia do Ministério Público Federal e mandou abrir uma ação penal contra Cerveró pelas acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.
De acordo com o despacho do juiz, a denúncia encaminhada ao Judiciário pelo Ministério Público Federal descreve contratos fechados pela Petrobras mediante propina.
Um dos casos narra que, "em julho de 2006, Julio Camargo, agindo como representante do estaleiro Samsung Heavy Industries Co, da Coreia, logrou conseguir junto à Petrobras que a empresa em questão fosse contratada para o fornecimento de um navio sonda para perfuração de águas profundas (Navio-sonda Petrobras 1000)".
O contrato teria sido obtido "mediante o pagamento de vantagem indevida de US$ 15 milhões a Cerveró, então diretor Internacional da Petrobras, com a intermediação de Fernando Soares".
Em depoimento prestado à CPI da Petrobras, no Congresso Nacional, Cerveró negou as acusações.