Investigados na Operação Lava Jato, os senadores Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e Humberto Costa (PT-PE) subiram à tribuna do Senado nesta segunda (9) para criticar o Ministério Público e se defender das acusações de envolvimento com o esquema de desvio de recursos na Petrobras.
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Collor fez sucessivos ataques à PGR (Procuradoria Geral da República), autor do pedido de investigações ao STF (Supremo Tribunal Federal), enquanto Costa disse ser inocente.
Ex-presidente da República, Collor discursou por mais de 20 minutos sem fazer qualquer menção às acusações apontadas pelo Ministério Público. O senador usou a fala para denunciar a existência do que chama de "grupelho" na PGR, com postura "parcial" e que, segundo ele, acusou políticos de envolvimento na Lava Jato sem fundamentos reais.
Alberto Youssef, um dos delatores do esquema, disse em depoimento que o ex-presidente da República recebeu cerca de R$ 3 milhões em propina em negócio da BR Distribuidora. O fato não foi citado por Collor em seu discurso.
"Só nos resta lamentar a postura parcial e irretratável frente a todo o processo de um grupelho instalado no Ministério Público que, oportunamente, passou a influenciar e a ditar a atuação do procurador-geral da República. Condutas dessa espécie, sob o manto de um inimaginável poço de virtudes éticas, não fortalecem as instituições, menos ainda amadurecem a nossa democracia", afirmou Collor.
O ex-presidente classificou de "covardia" a peça apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em que seu nome figura entre os investigados da Lava Jato. Segundo Collor, o Ministério Público errou ao listar políticos como envolvidos no esquema de corrupção base nos depoimentos colhidos nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
"O Ministério Público atuou até aqui exclusivamente em depoimentos de notórios contraventores da lei, cuja credibilidade não recomenda, de pronto, a certeza e a pacificação da veracidade das informações."
Collor ainda acusou o Ministério Público de fazer "vazamentos seletivos" na Lava Jato de forma "tendenciosa" para prejudicar os acusados. "Cinismo. Isso chega a ser uma agressão. Sonegar de forma absoluta as informações das pessoas citadas definitivamente não se coaduna com o Estado de Direito", afirmou o senador.
COSTA
Ao contrário de Collor, Humberto Costa negou ter recebido doações ilegais de Youssef, como aponta o pedido de investigações do Ministério Público. O líder do PT no Senado disse que as acusações envolvendo o seu nome têm como base depoimento de Paulo Roberto citando um suposto encontro do petista com Youssef, que nunca ocorreu.
Confira a íntegra do pronunciamento:
O nome do líder do PT no Senado é citado em depoimento de Paulo Roberto Costa por supostamente ter recebido recursos irregulares em sua campanha ao Senado, em 2010.
"O Paulo Roberto diz que determinou a Youssef que ele disponibilizasse recursos para a minha campanha, mas não sabe se Youssef fez. Youssef diz que isso nunca lhe chegou e nada dessa natureza passou por ele", disse Costa.
O petista disse que nunca se encontrou com Youssef, mas admite conversas com Paulo Roberto na época em que era diretor da Petrobras apenas para tratar de assuntos referentes a Pernambuco, como a construção da Refinaria de Abreu e Lima. "Jamais houve qualquer relação minha com o senhor Paulo Roberto que não fosse pública e institucional. O senhor Youssef não conheço, nunca o vi na minha vida."
Apesar de elogiar a atuação de Janot no cargo, Costa afirmou que a peça da PGR sobre os políticos da Lava Jato foi um "ponto fora da curva" e tem fragilidades que serão comprovadas pelo Supremo Tribunal Federal. Uma delas, segundo o petista, é que a suposta doação ilegal que teria recebido ocorreu em 2010, época em que disputava uma vaga no Senado --mas que o documento o cita como líder do PT e senador, o que na época ainda não tinha ocorrido. "Só sendo Mãe Dinah para prever esse futuro", ironizou.
O petista fez um apelo para que Janot apresse as investigações no STF para provar sua inocência e também pediu que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, coloque em votação a ação que proíbe financiamentos privados de campanha no país.