Um acordo ensaiado pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP) com petistas para retornar à cúpula da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que deve ser eleita nesta quinta (12), provocou um racha na bancada evangélica.
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Uma ala dos religiosos ficou incomodada com o entendimento costurado pelo pastor e seus aliados para ocupar uma das vice-presidências do colegiado.
O acerto para viabilizar a eleição do deputado Paulo Pimenta (PT-RS) na presidência também previa o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), adversário político do pastor, com outra vice-presidência.
As vices fazem parte do comando das comissões. O cargo tem relevância porque, na ausência do presidente, o vice assume e fica com a atribuição de dar o ritmo da sessão e pode até pautar propostas.
Feliciano foi responsável pela maior crise envolvendo a comissão, quando assumiu a presidência em 2013. Por quase três meses a Câmara enfrentou protestos de movimentos negros, gays e feministas contra o pastor, que protagonizou falas polêmicas contra esses grupos. Ele sempre negou qualquer ato de discriminação.
Mesmo com a pressão, o deputado permaneceu na presidência e até comandou a aprovação da chamada cura gay, proposta que permitia a psicólogos oferecerem tratamento a homossexualidade, que acabou arquivada após ser alvo de duras críticas nas manifestações de junho.
A articulação foi construída por deputados do PT, PSB e PR, com integrantes da bancada evangélica. Como os religiosos são maioria na comissão, o petista Pimenta corre o risco de não ser eleito ou enfrentar manobras regimentais para adiar sua eleição.
Pelo acordo de líderes que dividiu o comando das comissões da Casa entre os partidos, caberia a um petista a de Direitos Humanos. Os deputados religiosos, no entanto, defendiam quebrar o acordo e retomar o comando.
PASTORETES
A bancada chegou a articular a candidatura do deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), aliado do pastor Silas Malafaia e pastor da Assembleia de Deus. O PSD, para evitar a quebra de acordo, tirou Cavalcante da titularidade da comissão e passou-o para a suplência, o que o impedia de disputar a presidência com uma candidatura avulsa.
Cavalcante chegou a negociar uma vaga com o PR para tentar concorrer ao comando, mas a liderança do partido barrou --os líderes são responsáveis pela indicação dos integrantes das comissões.
O pastor até contratou cinco estudantes, que receberam uma ajuda de custo de R$ 70, para distribuir nas entradas do Congresso nesta quarta (11) um panfleto defendendo seu direito de disputar o cargo.
De calças justas e maquiadas, as jovens disseram que foram mobilizadas pela assessoria do deputado e que não eram evangélicas. "Não consegui nada", afirmou Calvacante sobre as manobras.
Para evitar uma derrota, os petistas procuraram os evangélicos para negociar as vice-presidências. O nome de Feliciano teria sido oferecido, mas não foi consenso.
"Não tem acordo. Estamos sem posição definida", afirmou o deputado Marcos Rogério (PDT-RO), integrante da bancada.
Feliciano disse que está à disposição e que sempre esteve com a bandeira branca hasteada para negociar com todos os lados. "É um exemplo importante para mostrar que no Congresso Nacional existe o diálogo. A política é feita de diálogo", disse.