Investigado pela Operação Lava Jato, o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL) afirmou nesta quarta-feira (5) não querer ser um personagem involuntário da campanha eleitoral que se desenvolve no âmbito do Ministério Público.
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Ele acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que concorre à reeleição ao cargo, de usar o vazamento seletivo de informações sigilosas da investigação como parte de uma "estratégia ardilosa" para permanecer no posto.
"Querem me trazer como personagem, embora involuntário de minha parte, de uma campanha eleitoral que está se desenrolando e será concluída hoje", disse.
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) escolhe nesta quarta os três nomes que serão submetidos à presidente Dilma Rousseff para a escolha do procurador-geral da República, cargo máximo do Ministério Público Federal -hoje ocupado por Janot.
A tendência é que ele encabece a lista, que será encaminhada, nos próximos dias, para Dilma definir o nome e enviar a indicação para aprovação no Senado, onde terá que ser aprovado em votação secreta.
Acusado de ter recebido, junto a um grupo de assessores e colaboradores de sua confiança e empresas de fachada, cerca de R$ 26 milhões em suposta propina do esquema de corrupção na Petrobras entre 2010 e 2014, Collor é um dos mais críticos à recondução de Janot.
"Desde que o atual ocupante do cargo e candidato à recondução se apoderou da função, vem imprimindo aos trabalhos daquele órgão um modus operandi principalmente, e isso é notório, palpável e visível, baseado em um conluio com parte da mídia em que prevalece o vazamento de informações sigilosas ou não e a criação de uma narrativa de forma a dar uma aparente veracidade aos fatos", afirmou Collor.
CARROS DE LUXO
Em julho, o senador teve um Lamborghini, uma Ferrari e um Porsche apreendidos em uma das fases da Lava Jato. Os investigadores justificam que os carros podem ser produto de crime. Além disso, os automóveis estão em nome de empresas, portanto, ele não teria a legitimidade direta para requerer a devolução. Uma das empresas, a Água Branca, tem Collor como sócio.
"Tão logo houve a prisão de meus carros, ingressei junto ao Supremo Tribunal Federal com pedido de devolução dos mesmos. Nada mais lógico, nada mais justo. São bens de minha propriedade comprados de forma lícita, correta e portanto devem ficar sobre a minha guarda", disse.
O senador reclamou que, nesta terça-feira (4) pela manhã, jornalistas o procuraram para uma declaração sua sobre a negativa de Janot em relação à devolução mas, na parte da tarde, seu advogado esteve com o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, que negou ter recebido qualquer comunicação sobre o caso.
"Portanto, vejam os senhores, informações que correm sob sigilo de justiça foram vazadas seletivamente de forma criminosa pelo procurador aos meios antes mesmo que o ministro relator do Supremo tomasse delas conhecimento. Vejam a gravidade desse ato", disse.
Em seguida, o senador afirmou que comprou os carros com recursos próprios por meio de empresas em que é sócio majoritário e disse que todas as acusações contra ele "não passam de ilações" espalhadas por uma "alcateia que tomou conta do Ministério Público".
Collor também citou durante o seu discurso trechos de uma carta que teria sido enviada a Janot por servidores da Secretaria de Comunicação do Ministério Público contra a contratação de uma agência privada de comunicação. Na comunicação, os servidores reclamam do privilégio dado a empresa e com a condução de Janot frente à PGR.