O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou nesta quinta-feira (10) estar em desacordo com as medidas de ajuste fiscal, em um momento em que o governo de Dilma Rousseff anuncia corte de gastos e estuda aumentar impostos para conter a crise econômica.
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"Me assusta muito a visão de todos aqueles que, ao primeiro sintoma de uma crise, começam falar em ajuste. Ajuste significa corte de salários, corte de emprego, significa voltar ao patamar de miséria que você estava [antes] para poder recuperar a economia. A mim, não agrada", afirmou o ex-presidente em discurso feito em seminário em Buenos Aires.
"Todas as experiências de ajuste que foram feitas levaram os países à perda de postos de trabalho e ao empobrecimento da população", acrescentou.
Para Lula, os programas de ajuste só fizeram aumentar as dívidas dos países que tentaram cortar gastos, e usou como exemplo o que, segundo ele, ocorreu na Europa e nos Estados Unidos.
"Os países não conseguiram resolver a crise deles até agora, passados sete anos. Em todos os países que passaram por ajuste, a sua dívida pública cresceu. A Grécia tinha dívida de 84% e hoje é 186% [do PIB]", disse Lula.
Lula disse ainda que o bom funcionamento da economia e o aumento do crédito, indispensável ao crescimento, dependem da confiança, e que ele percebeu isso assim que chegou ao governo. Ele foi presidente de 2003 a 2010.
"A economia não poderia funcionar sem uma política de, primeiro, muita previsibilidade. Porque em economia não existe mágica, existe uma palavra chamada confiança e credibilidade. E se ela existir entre os governantes e os governados, tudo fica mais fácil".
Lula está na Argentina a convite da fundação DAR (Fundación Desarollo Argentino), controlada pelo governador Daniel Scioli, que concorre à presidência com o apoio da presidente Cristina Kirchner. Ele discursou em uma seminário sobre responsabilidade social.
NOTA DE CRÉDITO
Também nesta quinta, o ex-presidente disse que a perda do selo de bom pagador pelo Brasil "não significa nada".
"É importante que a gente tenha em conta que o fato de ter diminuído o grau de investimento não significa nada. Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem. A gente tem que fazer o que a gente quer", afirmou Lula.
O discurso vai de encontro ao que ele afirmou quando a mesma Standard & Poor's foi a primeira das três agências de risco mais importantes a dar ao Brasil o grau de investimento em 2008, durante seu segundo mandato. À época, Lula disse que o país vivia um "momento mágico".
"O Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que, por isso, passou a ser merecedor de uma confiança internacional que há muito tempo necessitava", afirmou o ex-presidente na ocasião.