Em depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do PT em 2009 e do governo na Câmara de 2010 a 2012, confirmou ter feito reuniões com o doleiro Alberto Youssef nos apartamentos que ocupava em Brasília e em São Paulo, mas afirmou que não sabia a correta identidade do visitante.
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Para o deputado, tratava-se apenas de "Beto".
O depoimento foi prestado em inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal para apurar informações dadas em acordos de delação premiada pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e por Youssef.
O primeiro disse que Vaccarezza pediu recursos para sua campanha eleitoral em uma reunião com o lobista Jorge Luz e que este lhe contou ter pago R$ 400 mil ao então deputado por conta de um contrato fechado com a Petrobras.
Youssef afirmou ter feito, a pedido de Costa, "três ou quatro" entregas de R$ 150 mil cada uma, em espécie, para o petista em seu apartamento no bairro da Mooca, na capital paulista.
Vaccarezza nega que tenha recebido os recursos.
O ex-deputado afirmou à PF que a partir de 2008, quando conheceu o doleiro por meio de "um grupo de deputados", ele recebeu Youssef em sua residência em algumas ocasiões: "duas ou três vezes" no apartamento funcional, em Brasília, acompanhado "de deputados e amigos", e uma vez no apartamento da Mooca, por volta de 2012, sozinho.
CARTÕES DE VISITA
Embora tenha dito que, na primeira oportunidade em que esteve com Youssef, eles "trocaram cartões" de visita, Vaccarezza afirmou que conhecia o doleiro apenas pelo apelido, sem saber quem era e o que fazia.
Youssef foi foco do noticiário no país a partir de 2003 por seu envolvimento no escândalo de evasão de divisas que envolvia inúmeros doleiros que usaram contas correntes no Banestado (Banco do Estado do Paraná).
No mesmo ano, o caso também foi objeto de uma CPI na Câmara dos Deputados.
Entretanto, Vaccarezza afirmou à PF que "somente veio a tomar conhecimento de que 'Beto' era a pessoa de Alberto Youssef, investigado no caso do Banestado, quando surgiram as denúncias da Operação Lava Jato".
Segundo o ex-deputado, seus encontros com o doleiro ocorreram "dentro de um contexto social, jamais para tratar de questões relativas a negócios".
O ex-deputado contou que, durante a reunião na Mooca, Youssef quis saber se ele "possuía alguma influência junto aos fundos de pensão", o que Vaccarezza teria negado, pois "inclusive havia sido demitido da função de líder do governo" na Câmara.
Em relatório entregue ao STF, o delegado da PF responsável pela investigação, André Moreira Branco dos Santos, classificou a versão de Vaccarezza de "inverossímil". "Não convenceu, por óbvio, que essa tivesse sido a única razão da visita", escreveu o delegado no documento.
LOBISTA
Vaccarezza também confirmou ter mantido reuniões e uma "relação pessoal" com o lobista Jorge Luz -que, em depoimento à PF, exerceu o direito de ficar calado.
O petista informou ter estado na casa de Luz "por duas ou três oportunidades, especialmente quando em viagens ao Rio". Porém, negou ter recebido dinheiro.
Para o delegado da PF, "merecem prestígio" as declarações de Paulo Roberto Costa, segundo as quais "a reunião/jantar na casa de Luz teria sido realizada para tratar de 'repasses'" para o ex-deputado.
Em relatório entregue ao juiz relator do caso no STF, Teori Zavascki, o delegado disse que "foram observados indícios" de que Vaccarezza "teria igualmente tomado assento no chamado núcleo político do esquema e, em razão do cargo de deputado federal, teria recebido valores indevidos que sabia se tratar de recursos públicos advindos de fraudes no âmbito da Petrobras".
O delegado, porém, concluiu que não se justifica mais que o inquérito continue no STF, pois Vaccarezza não é mais deputado e, durante o inquérito, não foi confirmada a premissa inicial de que ele atuava em conjunto com o atual deputado federal Vander Loubet (PT-MS).
O delegado sugere que o caso passe a tramitar na Justiça Federal de Curitiba (PR), aos cuidados do juiz Sergio Moro.
Zavascki determinou o envio da manifestação da PF para a PGR (Procuradoria Geral da República). O ministro deverá tomar uma decisão após o parecer da Procuradoria.