Na primeira semana como novo ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner ensaiou uma reaproximação do governo com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mesmo diante das novas denúncias investigadas na Operação Lava Jato e do momento de fragilidade política do peemedebista, o ministro demonstrou disposição em abrir um novo canal de diálogo
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O encontro aconteceu na última quarta-feira (7) na residência oficial do presidente da Câmara. A conversa teria sido solicitada um dia antes por Wagner para se apresentar formalmente como substituto de Aloizio Mercadante (hoje ministro da Educação) e demonstrar que pretende inaugurar um novo modelo de articulação política.
"Foi um encontro onde ele se apresentou na nova função e se colocou à disposição para o diálogo", contou o peemedebista ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
A reaproximação acontece na semana em que o Palácio do Planalto sofreu duras derrotas: teve as contas de governo referentes a 2014 rejeitadas por unanimidade no Tribunal de Contas da União (TCU), não conseguiu quórum entre os deputados na sessão conjunta do Congresso Nacional para apreciação dos vetos presidenciais da chamada "pautas-bomba" e ainda viu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abrir uma ação de impugnação de mandato contra a chapa formada pela presidente Dilma Rousseff e seu vice Michel Temer.
Apreensão.
O governo está apreensivo em relação aos nove pedidos de impeachment que ainda estão sob análise de Cunha. Ele prometeu despachar os requerimentos já na próxima semana. O presidente da Câmara disse que a conversa com Wagner foi "genérica", mas que a abertura do processo de afastamento de Dilma não foi assunto abordado no encontro.
Após estreitar as relações com o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o Palácio do Planalto sabe que mesmo com as denúncias sobre contas ocultas na Suíça que reforçariam seu envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, Cunha é uma peça que não pode ser desprezada. Enquanto for presidente da Casa e dono da caneta que pode dar o início no processo de impeachment de Dilma, o peemedebista ainda exerce influência sobre um amplo grupo de parlamentares e por isso precisa ser tratado com atenção redobrada.
Não à toa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já procurou pessoalmente Cunha e recomendou que o Executivo faça o mesmo. O presidente da Câmara rompeu com o governo em julho por avaliar que o Planalto está por trás das acusações contra ele. Cunha foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, por corrupção e lavagem de dinheiro. Em novos depoimentos, delatores apontaram o deputado como um dos beneficiários do esquema de corrupção na estatal.
Diferentemente da relação com Mercadante, onde não havia mais diálogo direto, Cunha sinalizou que está aberto a criar uma nova ponte com o ministro da Casa Civil. "Eu me dou bem com ele (Wagner)", comentou.