Interrogatório

Lobista tinha contatos frequentes com Renan, diz ex-diretor da Petrobras

Baiano, segundo Costa, relatou-lhe que discutiu com integrantes do PMDB como alocar recursos de propina

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Publicado em 10/11/2015 às 22:19
Foto: Jane de Araújo/ Agência Senado
Baiano, segundo Costa, relatou-lhe que discutiu com integrantes do PMDB como alocar recursos de propina - FOTO: Foto: Jane de Araújo/ Agência Senado
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O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou em interrogatório nesta terça (10) na Justiça Federal que o lobista Fernando Soares, o Baiano, contou-lhe que tinha "reuniões frequentes" com o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

"Fernando Soares me falou que tinha uma relação muito forte com o PMDB. Tinha reuniões frequentes com o senador Renan Calheiros", afirmou ao juiz Sergio Moro.

Baiano, segundo Costa, relatou-lhe que discutiu com integrantes do PMDB como alocar recursos de propina.

Na denúncia contra a Andrade Gutierrez, aceita pela Justiça, o Ministério Público Federal acusa a empreiteira de ter pago R$ 243 milhões em suborno -o que a empresa nega.

Costa, que fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República em agosto do ano passado, contou na audiência que recebeu US$ 3 milhões das empreiteiras Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Estre Ambiental em contas que tinha nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal no Caribe. O montante foi depositado por Baiano, que, segundo Costa, cuidava do repasse de propina da Andrade Gutierrez por ter relações com a cúpula da empreiteira.

Costa afirmou que Baiano prometera pagar US$ 4 milhões, mas US$ 1 milhão nunca chegou às contas abertas em nome de seus dois genros em Cayman, insinuando que o lobista ficou com parte do montante do suborno combinado com a Andrade Gutierrez. "Ficou US$ 1 milhão para trás, que deve estar em alguma conta do Fernando no exterior".

De acordo com Costa, Baiano passou a ser usado no repasse de suborno depois que o deputado José Janene (PP-PR) começou a ter problemas de relacionamento com a diretoria da Andrade Gutierrez. O lobista assumiu essa função em 2007, 2008, contou Costa.

Janene, que morreu em 2010, foi o parlamentar que indicou Costa para a diretoria de Abastecimento da Petrobras em 2004, cargo que ele ocupou até 2012, quando foi afastado por ordem da presidente Dilma Rousseff.

Costa reafirmou que as empresas investigadas na Operação Lava Jato atuavam como cartel nas concorrências da Petrobras.

Ele relatou que as diretorias de Serviços e a Internacional, ocupadas por Renato Duque e Nestor Cerveró, também recebiam suborno. Costa disse que a diretoria de Serviços recebia propina pela diretoria de Produção e Exploração. Segundo o ex-diretor, essa diretoria tinha o maior orçamento da estatal, muito superior ao do setor de Abastecimento que comandava.

Após citar que contou em sua delação sobre suas suspeitas em torno dessa diretoria, ele afirmou: "Até hoje pouco vi sobre essa investigação. Tem um campo vasto para a PF e o Ministério Público avançarem".

A diretoria de Produção e Exploração foi ocupada por Guilherme Estrella, um executivo com estreitas ligações com o PT. Estrella já foi mencionado nas investigações da Operação Lava Jato, mas nunca associado ao recebimento de suborno.

A audiência teve momentos de tensão quando advogados de executivos da Andrade Gutierrez tentaram emparedar Costa com declarações anteriores do delator.

Em tom duro, um defensor apontou que as agendas de Costa na Petrobras registram 33 encontros com executivos da empreiteira, mas em nenhum constava o nome de Elton Negrão, a quem o ex-diretor atribui a discussão de propina.

"Há um equívoco enorme da sua parte porque reunião fora da Petrobras, em hotéis de São Paulo [para acertar suborno], não constam em agenda", retrucou Costa, também com rispidez.

O defensor insistiu, e Moro cortou: "Isso é um argumento ou pergunta? Se for argumento, pode ficar nas suas alegações no processo".

O doleiro Alberto Youssef, que também depôs nesta terça (10), relatou que esteve três vezes no escritório da Andrade Gutierrez em São Paulo para receber recursos de suborno que repassou para a campanha eleitoral do PP em 2010. O montante recolhido foi de R$ 1,5 milhão, segundo o doleiro.

Youssef contou ao juiz que foi à empreiteira por orientação de Fernando Baiano.

OUTRO LADO

A assessoria do senador Renan Calheiros afirmou que ele não conhece Fernando Baiano e nega qualquer envolvimento com repasses de suborno.

Até a noite desta terça, a reportagem não havia conseguido falar com as partes citadas por Costa e Youssef.

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