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A ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) criticou o governo Dilma Rousseff e a oposição por blindarem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e permitirem manobras para evitar o andamento do processo de cassação do deputado.
"São um absurdo as manobras que estão sendo feitas dentro do Conselho de Ética. Se tivesse uma ação contundente mesmo de setores do governo e da própria oposição, que já disse que ele [Cunha] está insustentável, isso não estaria acontecendo", afirmou, após palestra do evento Lemann Dialogue, na Universidade Columbia, em Nova York, nesta sexta-feira (20).
Marina disse que a Rede e o PSOL levaram o processo para o Conselho de Ética para Cunha ter "oportunidade de refutar as provas contundentes que ali estão apresentadas contra ele e obviamente que essa blindagem está acontecendo da parte do governo e que aconteceu há até bem pouco tempo pela própria oposição, um porque queria o impeachment e o outro porque não queria".
Candidata à Presidência em 2010 e 2014, ela disse que o governo enfrenta uma situação "dramática" devido à descoordenação.
"A presidente com o ministro da Fazenda [Joaquim Levy] têm um plano, o partido da presidente [PT], através da Fundação Perseu Abramo, tem um plano, o partido do vice-presidente [Michel Temer, o PMDB] tem um plano, o presidente do Congresso [Renan Calheiros (PMDB)] tem um plano. Nós temos quatro planos hoje no Brasil e, obviamente, nenhum está resolvendo o problema, porque o problema mais grave é político, de falta de credibilidade", afirmou.
Ela responsabilizou Dilma por manter medidas adotadas em resposta à crise de 2008. "O Brasil não viveu um terremoto, um maremoto, uma catástrofe. O que aconteceu no Brasil foram decisões politicamente inadequadas que prejudicaram o percurso que nós achávamos que virtuosamente começávamos a seguir."
Ao propor agora o ajuste fiscal, o governo comete "mais um reducionismo" e impõe sacrifícios sem contrapartidas, afirma. As pessoas terão que "pagar o preço, em função de cortes que estão sendo feitos, sem que se dê uma perspectiva. É fazer sacrifício para continuar captando recursos a 14,25% a taxa Selic e emprestando a 4% para os campeões nacionais? É fazer sacrifício para ver a educação produzindo 500 mil jovens tirando zero em redação? É fazer sacrifício para ter um péssimo atendimento de saúde?", argumentou.
Marina citou a mudança na lei que restringe o seguro-desemprego a quem tiver trabalhado 12 dos 18 meses anteriores ao pedido do benefício -antes eram necessários apenas seis meses. "É fazer sacrifício em um momento em que as pessoas estão sendo desempregadas e aí se criam barreiras para o acesso ao [seguro-]desemprego? É uma contradição", criticou.
Ela continuou o raciocínio citando o corte à metade de oferta de vagas do Pronatec (programa de acesso ao ensino técnico) pelo governo Dilma. "No momento em que a mão de obra está ociosa e você deve usar essa mão de obra para treinamento e qualificação, você diminui as verbas do Pronatec. Quando nós tínhamos uma situação de pleno-emprego, tinha um aumento e crescimento das vagas do Pronatec."
A ex-ministra defendeu investigações "autônomas e independentes" do juiz Sergio Moro, da Polícia Federal e do Ministério Público na Operação Lava Jato. "Isso deve ter todo o apoio, nem um passo atrás em relação a essa necessidade de passar o Brasil a limpo", afirmou.
BARRAGEM
Marina afirmou que, "sem sombra de dúvida", o rompimento da barragem de Mariana (MG) é um crime ambiental, "não é um acidente natural".
Ela criticou propostas de flexibilização do licenciamento ambiental em análise no Congresso. "Alguns ousam sugerir que se façam licenças por decurso de prazo, você entra com um pedido e se a licença não é dada você já tem a licença por decurso de prazo", atacou.
A ex-senadora defendeu avaliação ambiental integrada e estratégica, "em que você não faz o licenciamento olhando apenas para o empreendimento, para o impacto local. Você faz a avaliação pensando a bacia hidrográfica e toda a região de abrangência do empreendimento".