Leia Também
O passo mais ousado da estratégia do senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo na Casa, para barrar a Operação Lava Jato era anular a primeira e mais explosiva delação premiada sobre o esquema de corrupção e propinas instalado na Petrobras entre 2004 e 2014.
Em reunião no hotel Golden Tulip, em Brasília, no dia 4 de novembro, o petista se comprometeu a "conversar com o ministro Edson Fachin", do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre um habeas corpus que questiona a delação do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. O ex-diretor denunciou deputados, senadores e governadores como beneficiários do esquema de corrupção e propinas instalado na Petrobras.
No encontro participaram, além de Delcídio, seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, o advogado Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, e Bernardo Cerveró, filho do executivo da estatal. Preso desde janeiro deste ano, Cerveró já foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato.
No último dia 18, após intensas negociações, Cerveró fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República Era esse o temor de Delcídio. O líder do governo tinha receio de que Cerveró o envolvesse no esquema de propinas na Petrobras, estatal onde o petista trabalhou como diretor no setor de Óleo e Gás, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"O congressista dispõe-se, ademais, a conversar com o ministro Edson Fachin sobre outro habeas corpus que discute a anulação do acordo de colaboração de Paulo Roberto Costa e está com vista para o Ministro, diante de ponderações do advogado Edson Ribeiro de que, concedida a ordem nessa impetração, a Operação Lava Jato seria em boa medida anulada", relata o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Na conversa com Delcídio, o advogado de Cerveró diz que, anulada a delação de Paulo Roberto Costa, a decisão poderia se estender às outras colaborações premiadas da Lava Jato - como a do lobista Fernando Baiano.
"Ouve-se até mesmo, na conversa, determinação do congressista a seu chefe de gabinete de que anotasse em sua agenda o compromisso de 'tomar um café' com o ministro Edson Fachin", relata Janot ao STF.
Depois da reunião de Brasília, houve ainda mais uma, em 19 de novembro de 2015, no Rio, no escritório do advogado Edson Ribeiro, "para dar sequência às tratativas que vinham sendo entabuladas". Delcídio foi preso na manhã desta quarta-feira, 25, em Brasília.