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O ex-ministro Guido Mantega (Fazenda/Governos Lula e Dilma) afirmou nesta quinta-feira, 28, na Polícia Federal em São Paulo, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "jamais manifestou qualquer empenho" no sentido de ver aprovadas medidas provisórias de interesse da indústria e das montadoras de veículos.
"O ex-presidente Lula nunca fez qualquer pedido nesse sentido, não fez qualquer empenho nem junto a mim nem junto a qualquer servidor do Ministério da Fazenda durante minha gestão", afirmou Mantega, em depoimento de duas horas ao delegado Marlon Cajado, que conduz o inquérito da Operação Zelotes - investigação sobre suposto lobby e compra das MPs 471/09 e 512/10 no governo federal para atender os interesses daquele setor.
"É um absurdo alguém falar que compraram ou venderam essas MPs porque elas versam exclusivamente sobre prorrogação temporal de um programa instituído pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Na época dele (como presidente), em medida acertada, houve a concessão de incentivos fiscais para as indústrias que quisessem se estabelecer em regiões mais pobres, sem postos de trabalho, com baixo Índice de Desenvolvimento Humano. Essas MPs simplesmente estenderam o prazo (dos incentivos)."
Na avaliação de Mantega, o tucano "agiu bem" ao editar MPs que "geraram bem estar, postos de trabalho, tecnologia de desenvolvimento e atividades econômicas satélites dessas indústrias".
"Isso funcionou. Vieram para essas regiões do Nordeste e Centro Oeste cerca de uma dezena de montadoras de automóveis. Foram abertas dezenas de milhares de postos de trabalho."
O ex-ministro considera que ninguém vai produzir carro em área carente "uma vez que o centro consumidor é o Sudeste, a não ser que haja incentivos (fiscais)". Mantega assinalou que o transporte de um carro desde a origem da fabricação até o local de compra "consome qualquer lucro, então é preciso haver incentivos".
O ex-ministro afirmou, ainda, que "não conhece, nunca viu, nem esteve na presença" do lobista Mauro Marcondes e da mulher dele, Cristina - ambos alvos da Zelotes. Mantega também declarou que não conhece Alexandre Paes Santos, o APS, apontado como lobista do esquema. O delegado insistiu sobre Mauro Marcondes, preso na Papuda, em Brasília. "Nunca soube se (Mauro Marcondes) falou com qualquer pessoa do Ministério da Fazenda no tempo em que estive lá. Não tenho o menor conhecimento (da atuação do lobista)."
Ele explicou ao delegado como é a tramitação burocrática das medidas provisórias. Reafirmou que "nunca foi abordado" por lobistas.
O delegado perguntou ao ex-ministro se ele se reunia com empresários. Mantega respondeu afirmativamente e citou CNI, Fiesp, Sindipeças e outros segmentos da indústria, segundo ele, "para tratar de assuntos relativos à suas atividades". Anotou que essa é a função do Ministro da Fazenda.
O delegado perguntou a Mantega sobre sua empresa, a Coroado Administração de Bens. Ele disse que criou a empresa em agosto de 2015 "depois de cumprir quarentena".
Segundo ele, a Coroado "presta serviços e seu maior cliente é a Fundação Getúlio Vargas que tem projetos de consultoria em parceria".
O advogado José Roberto Batochio, constituído por Mantega, declarou que o ex-ministro foi ouvido em declarações, como testemunha. "Está demonstrada, definitivamente, a completa lisura do procedimento funcional e pessoal do ministro Guido Mantega, que comandou a economia do País com dignidade, com desassombro."