A presidente Dilma Rousseff acertou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um roteiro para tentar afastar a crise do Palácio do Planalto, com o aprofundamento das investigações da Operação Lava Jato. A ideia é mostrar que o governo não está parado e cuida dos "reais" problemas do País, como o combate ao zika vírus, enquanto há uma "luta política" em curso e "ilações" que se transformam em denúncias.
A estratégia para enfrentar o agravamento da crise foi discutida ontem em reunião entre Dilma e Lula, num hotel de São Paulo. Dilma vai defender o ex-presidente das suspeitas contra ele, mas de forma moderada, sem entrar no mérito da Lava Jato. Ficou combinado que as reações mais enfáticas ficarão a cargo do PT.
A intenção da presidente é bater na tecla de que julgamentos precipitados embutem riscos e que há vazamentos "seletivos" das investigações, com o objetivo de prejudicar o governo. Provocada, Dilma responderá às perguntas sobre Lula, destacando não haver provas contra ele.
Um gesto neste sentido pode ser feito neste sábado, 13, depois que a presidente participar do mutirão do governo contra o mosquito Aedes aegypti, no Rio. Além disso, no ato político pela passagem dos 36 anos do PT, marcado para os dias 26 e 27 - também no Rio -, Dilma voltará a se solidarizar com o padrinho político.
Lula disse à sucessora que ela precisa mostrar, o quanto antes, que está governando porque, com a agenda dominada pela Lava Jato, desemprego e inflação alta, a percepção da sociedade acaba sendo a de que só há corrupção no País. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, presente à reunião, concordou com esse diagnóstico.
O ex-presidente é alvo da Operação Zelotes, que investiga esquema suspeito de "compra" de medidas provisórias em seu governo. O Ministério Público de São Paulo, por sua vez, apura a suspeita de ocultação de patrimônio relacionada à compra de um tríplex no edifício Solaris, no Guarujá.
Apesar de admitir ter visitado o condomínio com o então presidente da empreiteira OAS, Léo Pinheiro, condenado à prisão, Lula nega ser proprietário do apartamento. A Lava Jato vasculha benfeitorias executadas por empresas envolvidas no escândalo da Petrobrás em um sítio frequentado por Lula e sua família, em Atibaia, no interior paulista. Ele afirma que usa o sítio para descansar, mas garante não ser dono da propriedade.
Silêncio
Antes de se encontrar com Dilma, o ex-presidente comandou uma reunião com o Conselho do Instituto Lula e não quis falar sobre as suspeitas. Uma das participantes chegou a tocar no assunto para fazer a defesa de Lula e criticar a Lava Jato, mas foi interrompida por ele.
Lula argumentou que comentários sobre as investigações deveriam ficar para a reunião do Conselho Político do PT, marcada para segunda-feira. "Disse que as questões relativas a ele, ele mesmo enfrenta", relatou o ministro da Cultura, Juca Ferreira.
Segundo Celso Marcondes, diretor do Instituto Lula, o ex-presidente e seus advogados estão levantando documentos para apresentar uma "resposta cabal" sobre o sítio de Atibaia, nos moldes da defesa feita sobre o apartamento no Guarujá. Na escritura, o sítio de 173 mil metros quadrados está em nome dos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna, sócios de um dos filhos de Lula. As informações são do jornal O Estado de S Paulo.