A inclusão da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff na pauta da tradicional manifestação pelo Dia Internacional da Mulher provocou rachas, confusão e agressões entre as participantes do ato no vão livre do MASP, na região central de São Paulo. Na sexta-feira, depois de Lula ser alvo de uma condução coercitiva para prestar depoimento à Operação Lava Jato, a Frente Brasil Popular, formada por diversos movimentos e partidos, entre eles o PT, decidiu incluir o ato das mulheres em seu calendário de mobilizações em defesa do ex-presidente.
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Segundo organizadoras do evento, a pauta petista não foi negociada com os demais grupos que chamaram o ato. Isso fez com que movimentos ligados ao PSOL criticassem a presença de petistas e o PSTU abandonasse a marcha. "Não temos acordo com esta defesa no ato. Esta postura foi uma ruptura", disse Marcela Azevedo, do Movimento Mulheres em Luta, filiada ao PSTU.
Antes do início da manifestação, os próprios petistas admitiam que as defesa de Lula e Dilma eram pautas de apenas alguns movimentos que integraram a marcha. "Esta é uma marcha tradicional que reúne mulheres de todos movimentos de juventude, moradia, sindicatos e outros. Nem sei se vou poder falar sobre Lula e Dilma no carro de som. Não temos acordo sobre isso", disse Juneia Batista, secretária nacional da Mulher Trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Até mesmo integrantes de grupos contrários ao impeachment de Dilma reclamaram da tentativa de "cooptação" do ato. "É bom lembrar que este é um ato de vários partidos e um dos eixos é a defesa da democracia e do estado de direito, mas não pode ser um ato pró-Lula", disse Tabata Tesser, do PSOL.
Isso não impediu que algumas oradoras usassem o carro de som para dizer não ao "golpe" e criticar a ação da Lava Jato contra Lula. O clima esquentou quando Silvia Ferraro, do PSTU, tomou o microfone e fez um discurso contra o governo. "Fora Dilma, fora Temer, fora Aécio, fora Cunha, fora Renan, fora Alckmin", disse Silvia.
O discurso foi o estopim para o início da confusão. Defensoras de Dilma tentaram tomar o microfone da militante do PSTU, e Silvia resistiu. As agressões começaram ainda em cima do carro de som e logo se espalharam para a rua, onde defensoras dos dois lados começaram a trocar empurrões, tapas e xingamentos como "vagabunda", "cachorra" e "bandida". Silvia precisou de uma escolta para conseguir deixar o carro de som. "Para este pessoal a democracia só existe se você for a favor de Lula e Dilma", disse ela.
Em represália, o grupo ligado ao PSTU decidiu marchar em direção oposta, rumo ao bairro Paraíso, enquanto a passeata seguia para a Rua da Consolação.
A Polícia Militar não fez estimativa do número de participantes. Segundo as organizadoras, foram entre 10 mil e 20 mil pessoas. Elas defendiam a legalização do aborto, a maior participação feminina na política e o fim da violência contra as mulheres, entre outras pautas.